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  • Jônatas Levi

Violência contra a mulher: uma realidade dolorosa e persistente

Mulheres relatam impactos psicológicos graves após agressões


Repórter: Jônatas Levi 

Editor: Bernardo Monteiro


Vítima publicou um relato nas redes sociais e afirmou que o suspeito não pode sair impune - Foto: Reprodução

Estava sentada na sala, tinha acabado de chegar do trabalho e minha cabeça não parava de doer. Ele chegou e queria a todo custo que tivéssemos relações sexuais naquela noite. Eu não quis, e isso foi motivo para que ele me desse socos no rosto, e quando eu estava caída depois de tanto apanhar, ele me deu chutes na barriga. Eu desmaiei, acordei umas horas após o fato e sai de casa. Fui primeiro ao hospital, tomei pontos em alguns cortes que tive próximo ao olho e na boca. Estava muito machucada. Depois fui à delegacia, onde realizei todos os trâmites necessários. Hoje tenho uma medida protetiva. Me mudei, excluí minhas redes sociais e vivo afastada das pessoas que têm algum contato com ele. Não quero nunca mais ver aquele homem na minha frente.


Ele, legalmente, ainda é meu esposo, mas nunca mais vai me ver. Não vou procurar defensoria ou qualquer outro meio para me divorciar. Não quero mais saber de nada, eu só quero esquecer aquele momento e aquela pessoa. Eu vivo com medo, e o meu trauma é enorme. Já passaram dois anos e eu não consigo esquecer cada um daqueles momentos, de cada golpe. Ele feriu meu corpo e minha alma com cada uma daquelas agressões. 


O caso de Andreia Rodrigues, ocorrido em 2021, evidencia uma dura realidade enfrentada por mulheres cotidianamente, no Brasil. Em um estudo divulgado em março de 2023, a Rede de Observatórios da Segurança registrou 2.423 casos de violência contra a mulher em 2022,  sendo 495 deles casos de feminicídios. Rio de Janeiro e São Paulo, somados, concentram 60% do total de casos. 


A psicóloga Ingrid Pelajo explica que, assim como Andréia, as vítimas, na maior  vezes, tem o objetivo de esquecer os traumas vivenciados, e isso acaba fazendo com que as mulheres não consigam lidar com os seus agressores. “Em muitos casos, não tem denúncia e as mulheres só fogem dos seus agressores. Quando uma mulher sofre violência, existe uma tendência a querer apenas esquecer o fato e seguir em frente”, explica.


Vítima de violência contra a mulher - Foto: Reprodução

Em 2020, ano em que a pandemia de covid-19 teve seu auge, muitas mulheres tinham que lidar com o temor do vírus e, simultaneamente, com a ameaça que enfrentavam dentro de suas próprias casas. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, no primeiro semestre do ano, ocorreram 648 casos de feminicídio. O dado indica que, no Brasil, o país teve cerca de quatro vítimas fatais por dia. 


“Eu não tinha mais meu apoio emocional. Tive que seguir em frente e aprender a viver sem a pessoa que era tudo na minha vida”, relata Caroline Souza, de 19 anos.  O jovem foi uma das pessoas que perdeu uma pessoa próxima durante o período. A mãe de Caroline foi morta pelo padrasto, que teria se revoltado com a mulher após ler uma mensagem no celular de sua companheira. 


Ela ainda relata que os danos causados pela perda ainda afetam sua vida, principalmente por depender financeiramente da mãe, quando o caso ocorreu. “Os impactos emocionais, muitas vezes, não se resumem àquelas que foram vitimadas, mas também daqueles que estão próximos, como filhos e parentes”, explica Pelajo. 


Na maior parte dos casos, as mulheres tendem a desenvolver transtornos psicológicos graves por conta de agressões. Depressão, insônia e transtorno de ansiedade generalizada são alguns dos sintomas mais comuns nestes casos. “Cada caso é uma história em particular. Apesar disso, é comum que vítimas de abuso se sintam culpadas, tendo a sensação de insegurança, com a sensação de que estão sendo constantemente ameaçadas e isso acaba causando danos sérios às vítimas”, diz Pelajo. 


“Ele disse que eu tinha que aceitar, que não era nada demais. Eu, evidentemente, não quis, e isso foi motivo para ele fazer o que fez”, conta Luciana Ribeiro, de 57 anos, que também foi vítima de agressão por parte do seu então companheiro, em março de 2023. A mulher relata que, ao descobrir uma traição do homem, tentou sair de casa, quando foi acertada com um pedaço de madeira nas costas. 


Bruna Macedo, advogada que atua em defesa de mulheres que sofrem com a violência de gênero, destaca que, na maior parte das vezes, os homens que têm este tipo de comportamento, são aqueles que enxergam suas companheiras como uma posse, e que quando suas exigências não são atendidas, tendem a querer resolver os “desacatos” deste modo. “É uma lógica de controle, quando as coisas saem do comando destes homens, é como se estivesse corrigindo de algum modo alguém que, na visão deles, é programado para atender suas expectativas”, diz. 


Medidas contra a violência de gênero  


O Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem) da Defensoria do Rio realizou, em 2022, o seminário Diálogos para o Futuro, que visa conscientizar a população sobre os diferentes tipos de agressão contra meninas e mulheres. A ativista Bruna Macedo conta que o mais importante para prevenção dos casos de violência são ações efetivas de conscientização das novas gerações sobre a gravidade do tema. “É muito importante falar sobre o impacto que isso causa e como isso pode trazer danos à mulheres. Isso se repete por não falarmos e debatermos amplamente a urgência do tema”, afirma. 


Em  Outubro de 2023, foi sancionada pela prefeitura do Rio a lei 8.080/2023, que institui o Observatório Municipal da Violência contra a Mulher (OMVM), um programa para mapear a violência, de forma a subsidiar políticas públicas de prevenção e enfrentamento. O autor da PL, vereador Márcio Santos, salientou que o observatório servirá também para promover estudos, pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, levando em consideração o grau de parentesco, a dependência econômica e a cor ou etnia, para compreender as causas, consequências e frequências da violência contra a mulher e, desse modo, criar novas políticas públicas para prevenção e enfrentamento do problema. 


A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, desde março de 2023, instituiu a chamada “sala lilás", em suas dependências. O espaço serve para prestar atendimento psicológico e jurídico para mulheres que tenham sofrido tentativa de feminicídio. 


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