Altas temperaturas aumentam risco de doenças e desidratação
Repórter: Jônatas Levi
Editor: Bernardo Monteiro
Com sensação térmica acima dos 50° em algumas regiões, o Rio de Janeiro vive uma das maiores ondas de calor da sua história recente. Um dos grupos mais afetados pelas altas temperaturas são os moradores em situação de rua que, na maior parte das vezes, não encontram um amparo das autoridades para lidar com a situação térmica extrema enfrentada no estado.
Em um censo divulgado pela prefeitura do Rio em abril de 2023, estima-se que existam hoje na capital fluminense aproximadamente 7.865 pessoas em situação de rua, número 8,5% maior do que o último divulgado (7.272), em 2020.
Apesar do cenário e da vulnerabilidade destas pessoas, não existe atualmente no estado um plano para proteção desta população em vulnerabilidade social. “Além de estarem completamente expostos por tudo que os cerca cotidianamente, esses indivíduos não são olhados pelo estado em mais esta questão”, afirma o sociólogo especialista em direitos humanos Maurício Rossi.
Um dos que enfrenta a dura realidade é Antônio Souza, de 45 anos. Atualmente, o homem fica na região central da cidade do Rio de Janeiro, na Praça Floriano, próximo à Câmara Municipal, que conta com aparelhos de ar condicionado em todas as suas salas e, até mesmo, no salão principal. Apesar de estar tão próximo aos legisladores, o homem relata que se sente esquecido por aqueles que governam o local. “Eu nunca senti um calor tão grande. Não sei mais o que fazer para me sentir melhor. Não tem um político desses para olhar por nós”, diz.
Antônio comenta que uma das formas encontradas para fugir do calor durante a noite é dormir em agências de bancos que geralmente ficam abertas durante a madrugada. Ele relata que já chegou a ser colocado para fora de um local por um homem que, supostamente, era um segurança. Segundo o morador, o momento mais difícil dos dias são as madrugadas, no horário em que tenta dormir, mas não consegue, por conta da temperatura.
Enquanto Antônio contava sua história, uma mulher, também moradora do local, pedia esmola para comprar uma garrafa de água. Quando conseguiu o valor necessário e comprou, surpreendentemente, a mulher não bebeu e sim molhou todo seu corpo. Naquele momento, às 15h da tarde de uma terça-feira, o termômetro marcava 38°. Ao ser questionada sobre como estava lidando com o calor, a pedinte, que se identificou como Isabel, contou que, durante muitos momentos do dia, entra em lojas e estações de metrô, que são espaços menos quentes, para tentar se refrescar. “Ainda assim, muitas vezes sou colocada para fora destes lugares. As pessoas não conseguem olhar para nós como seres humanos”, comenta.
Algumas cidades brasileiras atualmente, diferente do Rio de Janeiro, pensam em propostas para amenizar os efeitos do calor nos moradores vulneráveis. Em Linhares, no Espírito Santo, estão sendo distribuídos copos de água e os moradores em situação de rua estão sendo informados sobre as medidas e cuidados que devem tomar para prevenção aos efeitos colaterais da temperatura. A cidade de São Paulo tem discutido um plano para acolher e orientar estas pessoas sobre os riscos e as prevenções necessárias que devem ser adotadas por conta do calor.
“No Rio de Janeiro, a situação dessas pessoas precisa ser discutida quanto antes. As Prefeituras e o Governo do estado precisam pensar em ações conjuntas para melhorar minimamente a condição de vida de pessoas que já sofrem com uma marginalização”, afirma Rossi. Para ele, a demora do Poder Público em debater esta questão, mostra não só a falta de importância dada ao tema pelas autoridades, mas sim o não preparo dos governantes para solucionar questões humanas.
Pessoas em situação de rua não conseguem, na maior parte das vezes, consultas com médicos, pela falta de documentos, o que dificulta ainda mais a situação dos mesmos para se tratarem dos efeitos colaterais que as altas temperaturas ocasionam. Um dos moradores que enfrentou algo assim foi Adriano Costa, de 38 anos. Após passar horas exposto a uma alta temperatura, o homem teve uma insolação, que fez inclusive com que o homem desmaiasse. Após o fato, ele conseguiu atendimento de forma emergencial em um posto de saúde e descobriu que está com um problema de pressão baixa, que pode ser piorado se permanecer muito tempo em locais muito quentes. Adriano aconselhado a fazer acompanhamento médico em uma clínica da família. Por não ter qualquer documento de identificação, o homem não pode retornar ao médico, e, até o momento em que a matéria foi escrita, não tem um diagnóstico preciso, além de continuar vivendo em um local muito quente. “Desde que desmaiei, quando vejo que estou com muito calor, eu vou para próximo da Baía de Guanabara, que é um local que venta bastante e eu consigo amenizar o calor”.
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