Projetos de acessibilidade ganham força nos quatro grandes clubes do Rio
Repórter: Rafael Lopes
Editor: Gabriel Amaro
Faixas e cartazes em favor da inclusão autista estão cada vez mais presentes em estádios brasileiros, como a Neo Química Arena, do Corinthians, e a Arena Castelão, do Fortaleza. Essa tendência também cresce no Rio de Janeiro: Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco já possuem iniciativas direcionadas para a causa. Movimentos como Fogo Serrano RJ, Autistas Rubro-Negros, Autistas Flu e Autistas da Colina estão na linha de frente desse esforço pela acessibilidade.
Os projetos são liderados por pessoas intimamente ligadas à causa, como é o caso de Monike Lourinho, mãe de Fred e responsável pelo Autistas Flu. Monike, que deixou seu emprego em um banco para se dedicar ao filho autista, conta que a necessidade de inclusão ficou clara após uma crise de Fred em um jogo: “Mesmo usando os abafadores, Fred teve uma crise e não conseguimos ficar nem 10 minutos no jogo. Foi quando notei que meu filho estava sendo excluído de um local que amava”. Inspirada por uma faixa do movimento Autistas Alvinegros que viu em um jogo do Corinthians, ela decidiu organizar um projeto similar para a torcida do Fluminense.
A solidariedade é o que conecta os movimentos que crescem no Brasil. Monike afirma que as iniciativas se ajudam mutuamente em diversas necessidades, como o oferecimento de abafadores de ruído. Uma das principais queixas de pessoas no espectro autista é a hipersensibilidade auditiva, isto é, a aversão a barulhos muito altos. O quadro entra em conflito com o ambiente barulhento dos estádios de futebol.
Além dos abafadores, salas sensoriais são outra estratégia para acolher pessoas autistas. Equipadas com estímulos variados aos sentidos, isolamento acústico e iluminação adequada, essas salas também beneficiam pessoas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
Marcos Leal, idealizador do projeto Autistas Rubro-Negros, explica que as salas sensoriais são um grande progresso na inclusão de deficientes em geral: “É uma forma de promover acessibilidade, não apenas para pessoas com espectro autista. Nosso movimento vai além dessa luta, acreditamos que nenhuma deficiência deve ser marginalizada.”
Porém, essa ainda não é uma realidade nas arenas cariocas. Em julho, o prefeito Eduardo Paes sancionou a Lei Arthur Colecto, que exige a disponibilização de salas sensoriais nos estádios. Monike enfatiza a necessidade de ação conjunta entre as torcidas para fazer a lei valer: “Estamos pressionando o governo para que a lei seja colocada em prática logo. Também nos colocamos à disposição do Fluminense e do Maracanã para auxiliar no que fosse preciso”. Na primeira divisão do Brasileirão, apenas Corinthians, Coritiba e Goiás já construíram ambientes integrados em suas casas.
A inclusão autista também ganha força através dos clubes. No início da temporada 2023, o Vasco realizou um amistoso contra o Athletic, em São Januário, em que o público foi totalmente composto por pessoas autistas, num ambiente adaptado. Alice Siqueira é irmã de Samuel, um jovem torcedor vascaíno com autismo. Ela destacou a importância de iniciativas vindas dos clubes de futebol. “Meu irmão tem uma forma diferente de escutar. A movimentação do Vasco foi muito importante para que pessoas como ele se sentissem parte da torcida, incentivados pelo próprio clube que amam,” disse Alice.
Os projetos representam um avanço na acessibilidade geral aos estádios, mas o cenário está longe de ser igualitário. Marcos acredita que o alto custo dos ingressos aprofundou as desigualdades no acesso às arenas: “Nossos projetos lidam com as dificuldades das pessoas com deficiência, mas a elitização dos ingressos é um problema à parte da nossa luta. O estádio precisa ser de todos, sem exclusão alguma.”
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