Pela segunda vez consecutiva na final da competição, diretoria do Rubro-negro surpreende cobrando preços altos ao público geral
Repórter: Ana Beatriz Dias
Editor: Bernardo Monteiro
Às vésperas da final da Copa do Brasil, o Flamengo causou revolta entre seus torcedores ao disponibilizar ingressos para o jogo de amanhã contra o São Paulo, com valores que vão de R$ 400 a R$ 4.500, com pagamento somente via Pix. O clube carioca, popular por sua base de torcedores de classe média-baixa, gerou polêmica com preços que são significativamente mais altos do que na final do torneio do ano passado. Os torcedores, descontentes, denunciaram o time ao Procon-RJ questionando o custo elevado, que chega a ser mais que o dobro do menor valor cobrado em outubro de 2022, quando também foi finalista do torneio.
Estádio do Maracanã, palco onde será realizado o jogo de ida da Copa do Brasil - Foto: Luã Pereira
A venda dos ingressos teve início no dia 4 de setembro, já no dia 5, as vendas atingiram o número de 45 mil lugares comprados, segundo a parcial divulgada pela Coluna do Fla. Entretanto, o alto preço cobrado aos torcedores desacelerou as vendas, pois, neste ano, o menor valor da meia-entrada (R$ 200) é 166% maior do que o mais barato do último ano (R$ 75). Na quinta-feira (14), três dias antes da decisão, ainda havia bilhetes disponíveis no site oficial em três setores diferentes: Leste, Oeste e Sul. É notória a diferença em comparação ao último ano, quando, em cinco horas, todas as entradas tinham sido esgotadas para a final contra o Corinthians. A quantidade de ingressos ainda disponíveis mostra a revolta da torcida com o valor oferecido, visto que as arquibancadas do time carioca costumam estar sempre quase lotadas, principalmente em finais.
Críticas dos rubro-negros sobre os valores dos ingressos
O torcedor Marcelo Vieira, de 24 anos, contou que esperava ingressos na faixa de 100 a 150 reais, principalmente porque diante das expectativas no início do ano, a temporada da equipe é “decepcionante”. Sobre a denúncia dos flamenguistas ao Procon-RJ, o torcedor falou que achou a atitude correta, porque não faz jus a alcunha de “clube do povo”. Vieira afirma que o ingresso caro afasta o torcedor “tradicional”, classe composta, em sua maioria, por pessoas menos abastadas. “Quem recebe R$ 1.300 por mês não vai tirar R$ 400 para ir ao Maracanã, porque tem prioridades e contas a pagar dentro de casa.”
Devido a uma temporada abaixo, o Flamengo chega à final da Copa do Brasil com a esperança de conquistar o seu primeiro título da temporada. Marcelo enfatizou que, sendo o último campeonato em disputa, os preços dos ingressos deveriam ser mais acessíveis. Com as finais marcadas em domingos consecutivos (17 e 24), um valor mais acessível seria um estímulo ainda maior para que os torcedores pudessem estar presentes no estádio.
Diante da denúncia ao Procon, o torcedor João Marcos Escano, de 30 anos, entende que é obrigação da torcida denunciar o clube em todas as vezes que forem cobrados valores exorbitantes nas entradas. Além disso, Escano ainda afirma “Eles quiseram apostar que todo mundo iria comprar os ingressos, independente do valor que estava sendo oferecido.” Sendo assim, o rubro-negro ainda acha que a mobilização da torcida contra os preços para a decisão não vai influenciar em valores mais baixos para próximas possíveis finais. Para ele, somente uma pressão na nova eleição do clube no ano que vem pode trazer novas políticas de preços.
O torcedor Lucas Nascimento, de 29 anos, pagou R$ 600 para ir ao Maracanã e mostrou sua indignação contra os dirigentes do time carioca. “Desde a alavancada de 2019, tudo ficou exorbitante. Nos jogos mais importantes, são os sócios-torcedores que conseguem comprar mais rápido. Quem não é, sofre na fila de espera do site para comprar o ingresso.” Lucas ainda acrescentou que, atualmente, o Flamengo é um clube rico, é vitrine. Os torcedores do Maracanã antigo ficavam na arquibancada geral e conseguiam pagar barato, hoje em dia, infelizmente, não é mais assim. “A diretoria não está nem aí para o que o flamenguista vai ter que fazer para ir ao jogo, ela só quer que ele vá, só pensam no lucro que vai para eles. O padrão de vida que os jogadores e os dirigentes têm são outros, a folha salarial do Flamengo é altíssima, a do torcedor, não.”
Último confronto entre Flamengo e São Paulo, realizado no dia 13/8/23, no Maracanã. Foto: Marcelo Cortes/CRF
Organizadas fizeram vaquinha na internet para realizarem festa na arquibancada
No início deste ano, Nascimento pagou R$ 200 na semifinal do Mundial de Clubes (disputado no Marrocos), entre Flamengo x Al-Hilal. “Olha a diferença, é um absurdo, paguei mais barato para ir a um jogo no exterior, do que para ir ao Maracanã. Eu estava com dinheiro guardado justamente para ir à final, que será a partida mais importante da temporada. Eu vivo de Flamengo, é minha maior paixão, mas não posso concordar de jeito nenhum com o que estão fazendo.” O rubro-negro também comentou sobre a festa que está sendo organizada para acontecer no Maracanã, na qual R$ 150 mil já foram arrecadados. “A gente foi para as redes sociais, as torcidas organizadas se mobilizaram para fazer a maior festa da arquibancada, com mosaico, bandeira 3D e foguetório, todo um esforço foi feito e o Maracanã não vai lotar, porque ainda têm ingressos sobrando no site e só podem ser comprados via Pix. Mesmo com a fase ruim que o time tem vivido, não deixa de ter um elenco milionário, são jogadores de seleção, por isso colocaram esse valor absurdo para irmos ao estádio.”
Paixão e revolta pelo Flamengo
Marcelo Coronel, de 43 anos, também fez críticas aos dirigentes do Flamengo. Para o torcedor, já era certo ter um aumento dos ingressos, porém, ficou assustado. “Eles só visam marketing e dinheiro, não se importam conosco.” Sobre o dinheiro pago na entrada, ele garantiu que fará falta e ainda acrescentou que, já que estão sempre ali, seria mais um motivo para não deixarem chegar a este preço, porque os torcedores já dão dinheiro para o clube o ano inteiro. “A pessoa que escolheu ir para o Leste Superior (setor no Maracanã), pagou R$ 1.000, é um abuso. Ainda dão sorte porque a gente (torcedor) é muito apaixonado. Só quem convive, entende.”
Coronel pontuou ainda que conhece torcedores que já deixaram de comprar comida para irem ao jogo e adquirirem as camisas. “O que a diretoria está fazendo é uma injustiça. O amor e a paixão que nós temos não é retribuído, eles nos exploram cada vez mais, não é só nos ingressos não, nos produtos e nas camisas também, elas são uma fortuna.’’ O rubro-negro disse ainda que a torcida é responsável pelo time estar onde está e que, sem ela, o recorde em vendas não seria possível. “O Flamengo é líder nos lucros, isto mostra as loucuras que nós fazemos pelo nosso time, para, no final, não sermos reconhecidos. Faço de tudo pelo meu time, é inexplicável esse amor.”, finalizou.
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