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Rebeca Passos

Simulações da ONU abrem portas para diplomacia jovem

Estudantes encenam negociações globais e abordam crises em reuniões que espelham a realidade diplomática


Repórter: Rebeca Passos

Editor: Gabriel Amaro


Change the World Model United Nations (CWMUN) 2021, uma simulação de reunião da ONU que reúne mais de três mil jovens de diversos países, durante quatro dias - Foto: cwmun.org

Jovens do Rio de Janeiro encontram nas simulações das reuniões da Organização das Nações Unidas (ONU) um palco para a prática e o entendimento da diplomacia global. Idealizado no segundo semestre de 2023, o projeto Uerjmun pretende transformar salas de aula em cenários de negociações internacionais, onde participantes assumem o papel de delegados representando nações e organizações em simulações que espelham o funcionamento da ONU. Essa iniciativa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), apoiada pelo Centro de Estudos e Pesquisas no Ensino do Direito (Ceped), busca não apenas proporcionar experiência prática em relações internacionais, mas também democratizar o acesso a um modelo educacional comumente restrito a círculos elitizados.


Joel de Oliveira, estudante de Direito e Secretário Geral do Uerjmun, ressalta a relevância educacional dessas simulações, que têm potencial para influenciar positivamente a trajetória acadêmica e profissional dos participantes. Conhecidos carinhosamente como “modelândia”, os eventos oferecem aos alunos a chance de se aprofundarem na política global e nas negociações internacionais. As simulações recriam cenários de diplomacia e abordam crises internacionais, acordos comerciais e conferências de paz.


Antes do início da simulação, os participantes recebem informações sobre seus papéis e objetivos: eles podem representar países, organizações internacionais ou indivíduos e recebem briefings que descrevem suas políticas, interesses e objetivos. Os delegados — como são chamados — interagem entre si, seja por meio de negociações diretas, alianças, tratados ou outras formas de diplomacia para representar seus interesses e equilibrar a cooperação com a competição. Os eventos contam com diferentes funções, desde delegados de comitês a membros da imprensa, que fazem a cobertura jornalística, além dos diretores de comitês e do secretariado, responsáveis pela organização integral das simulações.


No entanto, Joel aponta que a participação nesses eventos ainda é predominantemente elitista, com a maioria localizada no Rio de Janeiro e em áreas de difícil acesso. O estudante afirma que a maioria das simulações tende a atrair participantes da alta sociedade que muitas vezes não entendem a realidade socioeconômica da maior parcela da população. “Tinham modelos que cobravam mais de 150 reais de inscrição,” ele comenta e destaca o código de vestimenta rigoroso, que poderia excluir aqueles que não aderissem.


Joel argumenta que a ampliação do acesso é vital para a existência de modelos públicos de simulação, visto que a diversidade dos participantes enriquece os debates e estimula a participação cidadã, além de promover paz e tolerância. Segundo ele, a democratização dessas experiências identifica e desenvolve talentos independentemente da origem. Isso contribui para o desenvolvimento de futuros líderes e vozes capazes de influenciar a política de maneira mais justa e equitativa.


As simulações como ferramenta educacional


“O modelo diplomático não só é um lugar em que a gente estuda, mas onde também aprendemos a valorizar outras culturas, regiões, histórias e conflitos,” diz Pedro Henrique de Freitas, de 19 anos. Ele participou pela primeira vez de um modelo diplomático aos 14, quando estava no 1º ano do Ensino Médio. Pedro e uma colega representaram o Reino Unido no Conselho de Segurança Histórico (CSH) sobre a terceira Guerra Indo-Paquistanesa.


Depois desse dia, não parou mais — seguiu como delegado e começou a participar da organização das simulações. Hoje, como professor e estudante de Letras, ele vê o potencial pedagógico desses modelos, que vão além do estudo: promovem o apreço por culturas, histórias e conflitos diversos.


Sofia na cúpula das Nações Unidas; ela representou a Eslovênia durante os 3 dias de comitê - Foto: Sofia Moura/Arquivo pessoal

Similarmente, Sofia Moura, aluna do terceiro ano, entende que as simulações a ajudaram no desenvolvimento de habilidades como oratória e na superação da dislexia. Sua participação no Change the World MUN, um programa aberto para alunos de ensino médio e universidades do mundo inteiro que acontece em Nova Iorque, proporcionou a chance de debater questões geopolíticas atuais em um contexto internacional. “Foi uma das experiências mais incríveis e inesquecíveis que eu poderia ter. Passar três dias discutindo em inglês com pessoas de diversas nacionalidades e etnias foi algo surpreendente,” conta Sofia, que também teve a oportunidade de visitar a sede das Nações Unidas.



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