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Realização "notável" – Por que mulheres ainda são poucas no Prêmio Nobel

Em 122 anos, somente 64 foram laureadas


Repórter: Rebeca Passos

Editor: Eduardo Dias


Quantidade de mulheres laureadas desde a criação da premiação em 1901 - Foto: III. Niklas Elmehed/Nobel Prize Outreach

Desde sua criação, o Prêmio Nobel tem homenageado diversas pessoas ao redor do mundo por realizações notáveis. Já foram distribuídos, até hoje, 965 prêmios individuais nas áreas de física, química, economia, fisiologia ou medicina, literatura e pelo trabalho em prol da paz. Mesmo sendo uma premiação conhecida por “inovações”, alguns padrões perseveram: em 122 anos, apenas 64 mulheres foram laureadas. A cientista polonesa Marie Curie foi a primeira mulher a receber o prêmio e ainda é a única a ganhar duas vezes em duas categorias distintas, Física e Química.


Até 2023, somente cinco mulheres venceram a categoria de Física no Prêmio Nobel. Com relação ao Prêmio Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas, a representatividade é ainda menor: dos 93 laureados no total, apenas três são mulheres.


Fonte: Nobel Prize Outreach

A discrepância ocorre não só no topo da hierarquia científica, mas também no início da formação acadêmica. Lorena Lamego, de 20 anos, é uma mulher da categoria STEM – sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Ela cursa Engenharia Mecânica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e faz parte do Minerva Rockets e Sats, o grupo de pesquisas aeroespaciais da universidade.


A estudante conta que não é fácil ser uma das poucas mulheres em um ambiente predominantemente masculino. Sua presença é muitas vezes questionada na sala de aula, até mesmo por professores: “Me perguntam se estou na sala correta e te oferecem menos apoio do que aos alunos homens”.


Lorena Lamego com o satélite que ela mesma projetou - Foto: Lorena Lamego/Acervo Pessoal

O questionamento de seu trabalho por homens virou rotina. Lorena disse que nunca ouviu de forma explícita de que seu lugar não era na engenharia, mas aconteceram vários atos implícitos. Durante uma amostra de um projeto, um espectador dirigiu a palavra apenas a um parceiro de equipe e ignorou a presença da estudante, que era mais experiente.


Machismo é um grande obstáculo para as cientistas


Lidar com uma organização de trabalho normalmente orientada pela lógica masculina é sempre ter que lidar com obstáculos ao exercício de uma vida acadêmica plena. A cientista política Andréa Lopes explica que para entendermos esse “prejuízo das mulheres”, imposto por barreiras estruturais, é preciso considerar tudo o que acontece na nossa sociedade.


As mulheres se desdobram entre o trabalho profissional e a atividade doméstica, no qual assumem a responsabilidade pelos cuidados da família e pela gestão da casa. Lopes afirma que, na organização do trabalho nas sociedades, de maneira geral, os homens são orientados para o trabalho externo e as mulheres orientadas para o ambiente doméstico.


A cientista destaca que a lógica masculina associa as mulheres à fragilidade emocional. Para ela, existem uma divisão de cargos no mundo laboral e, dentro dela, uma divisão sexual. Há uma ideia de adesão a algumas carreiras e de auto exclusão em outras. Algumas profissões são associadas apenas a mulheres, como babás, cozinheiras, secretárias, empregadas domésticas, enquanto nas profissões voltadas para a liderança e nas áreas de engenharia e tecnologia, os homens são vistos como protagonistas.


Anne L’Huillier, Katalin Karikó e Claudia Goldin: As únicas mulheres vencedoras do Nobel 2023 - Foto: III. Niklas Elmehed/Nobel Prize Outreach

Para Lopes, as instituições que concedem prêmios, como o Nobel, terem a sensibilidade de diminuir as práticas de reprodução do preconceito dentro nos meios acadêmico e científico é o primeiro passo. “Se cria o imaginário de um homem branco, mais velho para um possível ganhador de um prêmio qualquer. Essa visão é construída porque ela representa a dimensão normativa das gerações de poder”, afirma. Segundo a cientista, o aumento da presença feminina em papéis protagonistas em campos de pesquisa e laboratórios é uma outra forma de reduzir a sub-representação de mulheres no mundo acadêmico.


Apesar das barreiras, Lorena sonha em ser engenheira aeroespacial e tem orgulho de atuar em sua área. A aluna faz parte do setor de mecânica de satélites da equipe “Minerva Rockets e Sats”, que conquistou o primeiro lugar no Latin American Space Challenge com 60% de mulheres em sua gestão. “Pra mim, a melhor coisa do mundo é ter seu trabalho, seu esforço e dedicação reconhecidos. Acho que a maior conquista de uma mulher em STEM é esse. De certa forma, o Prêmio Nobel é uma das maiores concretizações desse reconhecimento. Espero pelo dia em que uma mulher ganhando um Nobel ou qualquer outro prêmio seja cotidiano”, afirma a estudante.


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