O desenvolvimento de enfermidades psicológicas é o principal impacto negativo dos processos de separação
Repórter: Bruna Silva
Edição: Miguel de Paula
O número de pais que optaram pela guarda compartilhada dos filhos subiu de 7,5% em 2014 para 34,5% em 2021, segundo uma pesquisa divulgada em fevereiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A estatística revela que a guarda compartilhada é uma realidade comum nos dias de hoje. Desse modo, os pais optam por dividir tarefas e responsabilidades, bem como é uma prioridade para eles o bem-estar dos filhos.
No entanto, o impacto desse evento pode afetar a saúde mental infantil. De acordo com um estudo da American Psychological Association, os casos de ansiedade e depressão nessas crianças estão associados ao comportamento dos pais. Nesse sentido, estima-se que o transtorno de ansiedade atinge entre 4% a 5% das crianças e adolescentes no Brasil.
Os filhos de Inácio Silveira, de 33 anos, estão entre esses números. Após passar por um divórcio a dois anos atrás, o mineiro diz que as crianças foram as mais impactadas nessa situação: "No início, eles sentiram muito a separação e demoraram a estabelecer uma nova rotina. Nós percebemos que o mais novo estava apresentando sintomas frequentes de ansiedade".
Os efeitos decorrentes da separação dos pais pode acarretar o desenvolvimento de diferentes tipos de transtornos nos filhos. A psicóloga Rosângela Cunha destaca que as emoções que as crianças podem vivenciar durante o divórcio, como a tristeza, ansiedade e confusão, pode afetar a estabilidade emocional delas.
"Essas crianças, que são acostumadas a viverem com os dois pais, acabam sentindo uma necessidade de adaptação a diferentes ambientes e isso pode afetar profundamente o bem-estar psicológico dos pequenos”, explica a psicóloga.
Entre os tipos de transtornos mais comuns que atingem os mais novos, estão a ansiedade, depressão e o estresse pós-traumático. Rosângela faz um alerta para os responsáveis não se desligarem dos cuidados com as crianças, principalmente no momento de separação em que elas ficam mais vulneráveis: "Os responsáveis têm que se manter orientados sobre como apoiar seus filhos e garantir que a saúde mental deles seja uma prioridade, e assim evitar que elas sofram".
Inácio acrescenta ainda que foi fundamental o acompanhamento com um profissional, que ajudou as crianças a entenderem melhor a situação da separação. "Para minha ex-mulher e eu, o principal foi focar no que é melhor para as crianças. Isso nos ajudou também porque foi possível manter um ambiente positivo para elas."
A profissional ressalta a importância de manter a comunicação de maneira sincera com a criança, e também destaca a importância de explicar a situação de forma adequada para faixa etária. Além disso, a profissional de saúde reitera a necessidade de criar rotinas consistentes e estruturadas para ajudá-los a se sentirem seguros e estáveis.
“O diálogo e a cooperação entre os pais são ferramentas valiosas para garantir que os filhos cresçam emocionalmente equilibrados, apesar das mudanças na dinâmica familiar. É um desafio, mas que pode ser superado com amor e dedicação”, diz Rosângela.
Por fim, a psicóloga aconselha os pais a manterem a saúde mental dos filhos como foco principal de discussão. Através do apoio de especialistas e o diálogo entre os responsáveis, é possível criar um ambiente de amor, estabilidade e compreensão, que promova o desenvolvimento saudável dos futuros adultos.
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