O “Reviver centro 2” concede mais benefícios às construtoras se comparado ao “Reviver centro 1”
Repórter: Jônatas Levi
Editor: Eduardo Dias
A Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou, no mês de setembro, o “Reviver Centro 2”. O projeto, de autoria da Prefeitura, visa atrair novos moradores ao chamado centro financeiro da cidade, composto por Cinelândia, Praça XV e Castelo. Uma das novidades do plano em relação ao “Reviver Centro 1”, que foi a primeira tentativa da prefeitura de revitalizar a região, é a chamada “Operação Interligada”.
Ela prevê a isenção do IPTU, ISS e ITBI (impostos sobre propriedade e serviços) por até 10 anos e o direito de construção nas chamadas “áreas receptoras” para as empresas que investirem no centro financeiro. As “áreas receptoras” englobam as Zonas Norte e Sul, com exceção da Glória.
“As construtoras precisam de vantagens para se estabelecer em uma determinada localidade. Com este programa, as empresas podem realizar construções populares pelo “Minha casa, minha vida” no Centro e, com os incentivos da operação interligada, construir moradias de alto padrão nas ‘áreas receptoras’. Assim, as duas regiões saem ganhando e a população também”, explicou Fabiano Porto, gerente imobiliário.
Um dos intuitos do projeto é integrar 50 imóveis ocupados ao programa “Minha Casa, Minha Vida”. A iniciativa visa reduzir o déficit habitacional com a cessão de propriedades ociosas. De acordo com a Associação Brasileira de Administradoras de Imóveis (Abadi), há 12 mil imóveis comerciais desocupados na região, número equivalente a 45% do total da cidade. O vereador Átila Nunes (PSD) defendeu a medida: “São prédios que já existem e estão com pessoas vivendo de maneira irregular. Nossa ideia é regularizar essas habitações e fazer com que essas pessoas vivam melhor”.
O Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) afirmou que o Reviver Centro 1 foi responsável pela construção de 800 novas unidades de moradias populares, das quais 520 já foram vendidas. A estimativa da organização é que sejam lançados ao menos 2 mil novos imóveis nos próximos 18 meses.
Região deserta e perigosa
De acordo com o censo demográfico de 2022, pouco mais de 41 mil moradores residem no Centro do Rio, cerca de 0,6% da população. Um dos motivos para a baixa porcentagem é a falta de segurança da região. Nos dez primeiros meses de 2022, as delegacias da Praça Mauá, Cidade Nova, Santa Teresa e Mem de Sá registraram um aumento de 183% no número de furtos a pedestres, se comparado ao período pré-pandemia, em 2019. Átila Nunes afirmou que, com os incentivos, novas moradias populares podem ser construídas no Centro, o que pode auxiliar na revitalização da área. “Quanto mais gente ocupar o espaço, mais seguro ele vai ser”, ressaltou o vereador.
A arquiteta Lívia Lima destacou que a região central é o lugar ideal para construções populares e que isso aumenta a qualidade de vida de boa parte dos moradores. “Por mais que tenha sofrido um esvaziamento, muitas pessoas ainda trabalham no Centro, e são pessoas que precisam gastar duas ou três horas de condução até o seu trabalho e depois o mesmo tempo para voltar para casa. Trazer estas pessoas para perto torna a vida delas melhor e torna o espaço mais vivo”, explicou.
Marcos Quintanilha, administrador de 32 anos, recém adquirente de um imóvel no local, contou que espera ter mais qualidade de vida. “Vi o estande de vendas, entrei e não acreditei quando me provaram que era possível comprar um imóvel tão próximo ao meu trabalho. Hoje em dia eu gasto cinco horas do meu dia para ir e voltar para casa. Quando eu pegar a chave do apartamento, vou chegar em 20 minutos”, afirmou.
Críticas ao projeto
De acordo com alguns parlamentares, os benefícios oferecidos podem resultar no encarecimento do custo de vida na região, o que prejudicaria quem já reside no local. “É uma lógica mercadológica e perigosa. Nada garante que as empreiteiras irão construir moradias populares, sem contar o risco de especulação imobiliária que isso pode gerar”, declarou a vereadora Monica Benicio, do Psol.
Além disso, a parlamentar também pontuou que o programa não aborda os transtornos estruturais da região. “A proposta não explica como serão resolvidos os problemas de mobilidade e de segurança. Nada disso é explicado. O projeto é feito pensando única e exclusivamente nas construtoras e atende mais à iniciativa privada do que à população”, afirmou.
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