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Leonardo Siqueira

Professores de dança apontam desvalorização do trabalho com ‘dancinhas do TikTok’

Dançarinos profissionais sofrem com popularização do fenômeno nas redes e perdem espaço para influenciadores digitais


Repórter: Leonardo Siqueira

Editor: Gabriel Amaro


Vídeos de dancinhas são destaques no TikTok - Foto: TikTok

As “dancinhas do TikTok” acumulam bilhões de visualizações e são um sucesso no Brasil e no mundo. A hashtag “dancinha”, por exemplo, conta com cerca de 16 bilhões de visualizações na rede social. No entanto, dançarinos profissionais relatam que o fenômeno contribui para a banalização e desvalorização da profissão: “Hoje, pessoas que nunca tiveram contato com a dança, que não entendem, são referências de dançarinos porque viralizaram no TikTok”, afirma Maria Clara Pitanga, professora de balé e sapateado.


Ela menciona a pressão para incorporar elementos dessas danças virais em suas aulas, pois é com isso que as pessoas interagem mais: “A gente preza pela dança real, e não a do TikTok. Mas hoje, infelizmente, essa dança real não viraliza.”  Andressa Alexia, também professora de dança, compartilha dessa opinião. Para ela, as dancinhas desvalorizam profissionais que tentam ensinar técnicas corretas para dançar — as pessoas preferem aprender o que consomem na plataforma. 


As duas professoras apontam um problema adicional: influenciadores digitais, sem formação específica, ocupam espaços tradicionalmente reservados a dançarinos profissionais. Maria Clara, por exemplo, diz conhecer pessoas qualificadas que participaram de processos para coreografar em produções musicais, mas que foram trocados por influenciadores. 


Andressa, por sua vez, ainda não viu isso acontecer com pessoas próximas à ela, mas percebe essa mudança de cenário: “Muitos bailarinos excelentes não têm oportunidade de trabalho, enquanto os influenciadores ocupam nosso espaço e deixam cada vez mais difícil ter a dança como fonte de renda principal.”


Formada há cinco anos, Maria Clara Pitanga dá aulas de balé e sapateado - Foto: Arquivo pessoal

Segundo Alex Silva, professor de dança e conselheiro fiscal da Federação de Breaking do Rio de Janeiro, em muitos casos, o número de seguidores da pessoa se sobrepõe à qualidade do trabalho coreográfico que um profissional da área pode apresentar. Por outro lado, os dançarinos afirmam que a rede social desempenha um papel importante de popularizar a arte da dança, informar sobre diferentes estilos e divulgar o trabalho de profissionais da área.


Diante disso, Elaine Ferreira, fundadora do grupo de pesquisa e extensão Rede de Ensino-Aprendizagem de Juventudes Populares em Periferias Urbanas (Redepop), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), acredita que o fenômeno do TikTok pode ser entendido como uma renovação e apropriação cultural da juventude, que, de tempos em tempos, se reformula. Ela destaca a forma como esse processo ultrapassa os limites digitais e passa a ocupar também o espaço público, com batalhas de dança de TikTok, por exemplo.



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