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  • Vitória Thomaz

Músicas tristes podem aliviar dor emocional

Estudo revela seis razões pelas quais as canções melancólicas nos atraem; psicólogas explicam os benefícios


Repórter: Vitória Thomaz

Editor: Gabriel Amaro


Lana Del Rey no clipe de ‘Young and Beautiful’. Foto: Mubi

Músicas melancólicas não são apenas uma preferência popular, mas podem também ser terapêuticas. Segundo Shahram Heshmat, especialista em economia da saúde, em um artigo publicado no Psychology Today, existem “6 razões pelas quais gostamos de ouvir músicas tristes”, que variam desde a nostalgia até a regulação do humor. Um levantamento do Spotify revelou que a palavra “sad” (triste em inglês) é a mais pesquisada pela geração Z na plataforma.


Lana Del Rey, com 56,5 milhões de ouvintes mensais, é frequentemente associada a canções emotivas, exemplificadas por faixas como “Summertime Sadness” e “Sad Girl”. Ela é uma das artistas mais mencionadas na tendência virtual “Sad Girl Music”, ou “música de menina triste”, que inclui artistas como Phoebe Bridgers, Mitski, Lucy Dacus, Olivia Rodrigo e Billie Eilish, dentre outros nomes. Esse fenômeno nas redes sociais reflete nosso apreço por músicas que expressam melancolia.


Shahram Heshmat, em seu estudo, destaca os motivos pelos quais as pessoas são atraídas por músicas tristes. Ele aponta que essas canções têm o poder de despertar a nostalgia, trazendo à tona lembranças do passado que podem influenciar nosso humor de maneira positiva. Além disso, as músicas tristes permitem que vivamos emoções intensas de uma forma segura, sem afetar diretamente a vida real. 


Heshmat também aborda a importância da empatia nesse contexto. As músicas melancólicas nos permitem nos identificar com as emoções expressas e criam uma conexão profunda com o artista e a obra. Isso leva à regulação do humor, quando a música triste ajuda na expressão e no processamento de sentimentos dolorosos, funcionando quase como uma terapia. Por fim, ele menciona que essas canções podem atuar como um “amigo imaginário” pois oferecem companhia e conforto para aqueles que se sentem sós, criando um sentimento de compreensão e acolhimento em momentos de solidão ou tristeza.


Aceitar a dor através da música


A psicóloga clínica Ana Paula Nascimento, com 28 anos de experiência, explica que a música melancólica pode ser muito benéfica por proporcionar um forte senso de identificação. Ela observou que muitos pacientes têm dificuldade em encontrar palavras ou outras formas de linguagem para expressar seus sentimentos e experiências. Nesse contexto, a música frequentemente se torna um recurso valioso. “Pude ver a satisfação ou alívio de um paciente que diz 'é exatamente assim que eu me sinto'. Parece trazer bem-estar, alívio, satisfação e até um certo prazer quando a pessoa pode pegar emprestado do outro as palavras que descrevem seu azar, dor ou infortúnio”, conta Ana Paula.


Gabrielle Guimarães, também psicóloga, diz que esse apreço por canções tristes inclui desde a identificação com a música até a liberação de dor e sofrimento. Gabrielle reforça que, na psicologia, é entendido que evitar a dor pode agravar o estado emocional de uma pessoa. Portanto, a melhor abordagem é aceitar essa dor, reconhecendo sua natureza temporária: “Quando colocamos uma música triste e estamos sofrendo, isso ajuda no processo de aceitação daquelas emoções. Consequentemente nos sentimos mais confortáveis e tranquilos depois de colocar essa dor para fora”.


Yasmin de Araujo, de 23 anos, gosta de canções melancólicas por considerá-las uma fonte de conforto: “Você coloca a música no fone e tem alguém lá cantando algo sobre exatamente aquilo que você está sentindo e você automaticamente se sente compreendida”.


Ela também acredita que essa preferência por músicas com letras e melodias tristes é característica da geração Z, e destaca questões como falta de diálogo e apoio em relações familiares tradicionais. “Eu acho que os jovens se sentem mais compreendidos por uma música da Lana Del Rey, por uma música da Taylor Swift, do que pelos pais. Não tem aquela conversa, você não se sente apoiado, e sim julgado. E aí você vai ouvir uma música que está contando sobre o mesmo sentimento e você sente conforto, apoio, compreensão, acho que isso faz toda a diferença”, diz Yasmin.



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