Academia Brasileira de Cultura deu posse a 13 novos membros no dia 14 de novembro
Repórter: Carlos Cavalcante
Editor: Bernardo Monteiro
Artistas podem ser considerados imortais? Essa é uma pergunta que pode passar pela cabeça de algumas pessoas, principalmente de quem acompanhou os noticiários na semana passada. A cantora e compositora Liniker, de 28 anos, foi eleita "imortal" pela Academia Brasileira de Cultura (ABC). A cerimônia de nomeação aconteceu no campus da Fundação Cesgranrio, no Rio de Janeiro (RJ), no dia 14 de novembro, onde 13 novos membros foram empossados.
Esta honraria é de extrema importância na carreira de qualquer artista, mas o que ela significa? Por que o caso de Liniker é histórico?
O que é ser “imortal”?
Para as Academias Brasileira de Cultura e a de Letras, os membros recebem o título de "imortais" como uma homenagem à idéia de que seus feitos e contribuições são duradouros e que portanto se perpetuarão, mesmo com o passar do tempo. Eles ocupam suas cadeiras de forma vitalícia, e a instituição preserva o legado de seus membros ao longo do tempo.
Liniker ocupará a cadeira 51, criada em homenagem à cantora Elza Soares, falecida em janeiro de 2022 e que ocupava a cadeira 26, agora pertencente à ministra de cultura Margareth Menezes.
Ricardo Benevides, professor de Comunicação Social e músico, ressalta que a nomeação pela ABC não é para exaltar o ego de nenhum artista: “Não vejo como um lugar de exaltação dos egos não, ao contrário, acho que o mais bacana dessa nomeação das pessoas que se tornam ‘imortais’ numa determinada academia é reconhecer que são expressivas o bastante naquela área de ação humana e ao mesmo tempo a possibilidade de dessas pessoas interagirem construírem juntos outros entendimentos sobre aquela área de expressão”, ressalta.
Como Liniker está fazendo história?
Em seu discurso de posse, a cantora disse: “Estar em pé no Brasil, sendo uma travesti preta, é muito difícil. Ser a primeira vez que uma travesti é empossada na Academia Brasileira de Cultura é muito importante e é fundamental para a cultura do nosso país, que abre esse mapa de diversidade, esse mapa de excelência, porque, sim, somos excelentes”, disse Liniker enquanto chorava de emoção. A chegada dela nesse cargo pela ABC se torna algo histórico na cultura brasileira, já que ela é a primeira mulher trans a receber esta honraria. Benevides afirma que a presença de Liniker na ABC faz parte de um movimento de redução das desigualdades e que isso não é feito de maneira forçada, é uma inclusão natural, autêntica. O músico completa que entende que o reconhecimento recebido pela cantora anda junto com a representatividade, e espera que isso ajude a combater os preconceitos da sociedade.
A conquista da compositora inspira milhares de mulheres trans pelo país, que enxergam o fato como um primeiro passo para um Brasil mais tolerante e respeitoso com transexuais e travestis. Coral de Azevedo, estudante de jornalismo e artista diz que ver Liniker recebendo esse título, traz a esperança de que alguém olha para as pessoas trans e que isso as permite sonhar: “Para nós, pessoas trans, que vivemos a beira da sociedade, isoladas e inviabilizadas de todas as formas possíveis, quando vemos uma de nós em um papel de destaque e sendo reconhecida enquanto artista, nos traz uma luz no fim do túnel”, disse.
Mesmo Liniker tendo recebido a posse deste título, a presença de pessoas trans na grande mídia brasileira ainda é pequena. Nos olhares do presente ao passado, é possível encontrar célebres nomes, como Linn da Quebrada, Erika Hilton, Thammy Miranda, Nany People e Roberta Close. Essas e outras personalidades trazem o debate, da existência e respeito de vidas trans e travestis, para o espaço público. Mas quando se analisa a composição da mídia como um todo, o número de representantes ainda é baixo.
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