Campanha alerta homens sobre importância do exame de rotina e do diagnóstico precoce da doença
Repórter: Ana Beatriz Dias
Editor: Gabriel Amaro
O Novembro Azul é uma campanha anual focada na saúde masculina que enfatiza a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de próstata, o segundo tipo de câncer mais comum entre homens no Brasil. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) alerta que, embora cerca de 30% dos pacientes venham a óbito, a detecção precoce da doença eleva as chances de cura para aproximadamente 95%. Urologistas concordam que a prevenção e o diagnóstico em estágio inicial são cruciais para um tratamento eficaz.
Dados do Ministério da Saúde de 2022 revelaram que um homem morre de câncer de próstata a cada 38 minutos no Brasil. Essa estatística elevada pode ser atribuída à menor frequência com que homens buscam consultas médicas, em comparação às mulheres. A recomendação é que os exames de rotina comecem a partir dos 50 anos, mas em casos de histórico familiar da doença, o ideal seria entre 40 e 45 anos. Um dos principais desafios da doença é que os seus primeiros sintomas são silenciosos, o que faz com que eles passem despercebidos e só sejam notados em estágios mais avançados.
Segundo Bruno Garcia, urologista e especialista em cirurgia robótica, observa que o Novembro Azul tem sido vital para aumentar a consciência sobre os exames preventivos. Durante o mês, ele nota um aumento significativo no número de consultas. “Tenho notado que a conscientização está ficando cada vez maior. Aqueles acima de 60 anos ainda são um pouco preconceituosos, no entanto, os que estão chegando na idade de fazer o exame (45 a 50) são mais informados e procuram se consultar,” afirma o médico.
Garcia entende que existe uma resistência comportamental masculina em relação aos cuidados com a saúde. Isso pode se intensificar pelo estigma associado à visita ao urologista, visto como o médico dos cuidados masculinos, incluindo saúde sexual e reprodutiva, além do sistema urinário.
Eli Luiz da Silva, de 78 anos, compartilhou a experiência do seu procedimento e alertou que todos os homens devem fazer o exame. Ao se submeter a exames regulares e iniciar um tratamento precoce, Silva conseguiu evitar o desenvolvimento do câncer de próstata. Ele fez a análise preventiva através do Antígeno Prostático Específico (PSA), um teste realizado a partir da coleta de amostra de sangue do paciente, e está em tratamento contra o tumor através de medicamentos por via oral há três anos.
Humberto Montoro, também urologista, reforça a importância do exame de próstata, dada a natureza assintomática do tumor em suas fases iniciais: “No início é onde tem a maior chance de cura, que é acima de 95%. Muitas doenças não apresentam sinais, essa é uma delas. Por essa razão, nós (médicos) recomendamos que os exames sejam feitos anualmente. Hoje temos aproximadamente 70.000 diagnósticos por ano, e em média, 15.000 mortes.” Com ênfase na detecção precoce, Montoro destaca a necessidade de atenção aos fatores de risco, como idade avançada, histórico familiar, obesidade e consumo excessivo de álcool.
Silva contou que estava em situação de risco e começou a tomar os remédios para não precisar fazer a raspagem da próstata. Ele entende que existe uma maior facilidade em conviver com o tratamento atualmente: “No meu tratamento eu já sofro restrições, mas nem se compara ao câncer, que é extremamente perigoso e leva a óbito. Está tudo muito mais fácil, tem o PSA, o exame químico e entre outros que facilitam a nossa vida”.
Hereditariedade aumenta risco de câncer de próstata
Montoro compara o câncer de próstata ao de mama, prevalente entre as mulheres, e enfatiza o peso da hereditariedade no risco de desenvolvimento da doença. “Se o indivíduo tiver uma pessoa na família com o câncer, ele tem duas vezes mais chance de ter também. Se o homem tem dois parentes de primeiro grau com o tumor, ele tem praticamente seis chances de ser o próximo, quando estiver na faixa etária dos 45 aos 55 anos de idade. Por isso, o rastreamento precisa ser feito mais cedo nessas situações,” explica.
O urologista destaca que o câncer tem múltiplas facetas, desde tumores sem dor até aos mais agressivos. Os sintomas percebidos em estágios mais avançados são principalmente a dor óssea, a presença de sangue no sêmem e a vontade frequente de urinar, além do incômodo.
Humberto conta que já tratou mais de centenas de homens com tumor na próstata; no entanto, a maioria não foi curado — a doença estava em estágio de metástase e já havia se espalhado em 90% dos casos. Para a prevenção, o médico recomenda manter bons hábitos de saúde, como alimentação balanceada, evitar tabagismo e álcool, praticar exercícios físicos e realizar consultas médicas regulares.
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