Dados da Ancine apontam que produções brasileiras correspondem a cerca de 1% da bilheteria dos cinemas no país
Repórter: Leonardo Siqueira
Editor: Bernardo Monteiro
O filme “Nosso Sonho”, que conta a trajetória da dupla Claudinho e Buchecha, atraiu mais de 430 mil espectadores aos cinemas e se tornou a maior bilheteria de um filme nacional em 2023. Apesar da marca expressiva do longa, as produções brasileiras não costumam ser destaques no país. De acordo com dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), a venda de ingressos para filmes nacionais correspondeu a cerca de 1% da bilheteria total dos cinemas até setembro deste ano.
Para Marcelo Ernandez, documentarista e professor da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a falta de espaços e oferta de melhores horários para as obras brasileiras são algumas das principais razões para essa diferença tão grande de bilheteria. Segundo a Ancine, cerca de 93% das sessões dos filmes nacionais, até junho deste ano, foram exibidas antes das 17h, horário de menor procura dos espectadores.
Embora exista a “Cota de Tela”, projeto de lei que define a obrigatoriedade da exibição de filmes nacionais nos cinemas, Ernandez afirma que isso não funciona tão bem na prática: “Na maioria das vezes se oferecem horários muito alternativos, como primeira sessão de segunda, terça e quarta-feira. São os piores horários que, em geral, são oferecidos. As exibidoras fazem um esforço necessário para que a lei seja cumprida, e não efetivamente para que o filme brasileiro seja visto.”
Mesmo com o sucesso de “Nosso Sonho”, o filme foi cortado de 150 salas do país em sua segunda semana de exibição. Na ocasião, a equipe do longa se posicionou contrária a esse corte e declarou que muitos cinemas estavam com apenas uma sessão disponível para o filme ou deixaram de exibir ao final de semana.
A conexão com o público
Em 2023, o grande sucesso no cinema nacional é o filme de Claudinho e Buchecha, que atraiu mais de 430 mil espectadores. Para o professor, um dos principais diferenciais de um longa brasileiro para o espectador é o sentimento de proximidade e identificação que tende a criar com o público, o que não costuma ser tão frequente com um filme estrangeiro.
Silvana Pereira, moradora de São Gonçalo, cidade natal de Claudinho e Buchecha, relata que se emocionou com o longa principalmente porque estava presente em um festival, que a dupla participou no início da carreira, que aparece no filme: “Senti muita proximidade, ainda mais que vivi aquele momento. Me senti muito emocionada assistindo. Participei de todos os bailes no decorrer do festival e, desde a primeira apresentação, eles (Claudinho e Buchecha) já tinham uma pinta de campeão. A comunidade abraçou muito.”
Já Viviane Silva, também de São Gonçalo, conta que sentiu uma identificação ao ver que o filme aborda questões que remetem à realidade e experiências da sua vida. Para ela, o longa não só representa a vida de Claudinho e Buchecha, mas de muitos adolescentes dos anos 1990 que moravam em comunidades: “O filme tem uma caracterização que faz parte da minha vida pessoal. Ele traz coisas que vivi também, as dificuldades, aquela coisa do sonho, de almejar coisas que estavam completamente fora da realidade”, relata.
Ambas concordam que o Brasil tem um grande potencial para as produções cinematográficas, mas que ainda falta incentivo e investimento. O professor Marcelo Ernandez ainda reforça esse pensamento e declara: “A gente sabe fazer filme. Só precisa de recurso para fazer e de regulação no mercado para distribuição.”
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