Grupo feminino resiste ao machismo e traz mensagem sobre igualdade de gênero
Repórter: Carlos Cavalcante
Editor: Eduardo Dias
Quem passa pela Rua Sacadura Cabral, na altura do número 76, no bairro Saúde, localizado no centro do Rio de Janeiro, consegue escutar, dependendo do dia, um ritmo vindo de uma garagem bem em frente ao famoso Bafo da Prainha. E quem notar que ali dentro está rolando um samba, também ouvirá vozes femininas entoando a música. Ao entrar no local, o que os curiosos irão encontrar é o Moça Prosa, um grupo de samba composto totalmente por mulheres. Eventos culturais, como rodas de samba, de rap, e muitos outros estão presentes pela cidade, mas, na sua grande maioria, são realizados por homens. Os eventos organizados por mulheres normalmente são invisibilizados.
A participação feminina em eventos culturais assume um papel muito importante na quebra de estereótipos de gênero. No Brasil, a desigualdade entre os sexos é grande devido ao machismo. Uma pesquisa realizada em 32 países pelo Instituto Ipsos, em parceria com o Global Institute for Women's Leadership, revelou que 78% dos brasileiros entrevistados reconheceram a existência da desigualdade de gênero em termos sociais, políticos e econômicos e 23% responderam que já presenciaram discriminação de gênero no trabalho.
Cíntia SanMartin Fernandes, professora e pesquisadora na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, afirma que mulheres que trabalham em eventos culturais enfrentam muitas situações machistas: “Todas essas artistas que frequentam a noite, que são produtoras culturais, que trabalham no backstage, que estão no palco como musicista, nesses ambientes como samba, hip, hop e tal, a maior parte das vezes, o que elas enfrentam é o desprezo, é a ironia”.
A pesquisadora também destaca que mulheres precisam constantemente mostrar sua competência em ambientes assim: “Sempre tem que ficar provando que consegue tocar bem um instrumento, porque, geralmente, isso é coisa do mundo masculino, então, as musicistas precisam provar que sabem tocar”.
Mulheres no Samba
Fabíola Machado, uma das organizadoras do samba Moça Prosa, fundado em 2012, conta que a ideia de criar o grupo foi de Wagner Silveira, percussionista do samba de sexta na Pedra do Sal. O artista convidou ela e outras mulheres que frequentavam o local para formar um grupo.
Com o passar dos anos, o grupo aumentou. Machado conta que a equipe estabeleceu um princípio desde o início das atividades: “Lá em 2012, a gente teve como discurso não cantar músicas que diminuíssem a mulher em nenhum aspecto. Eu lembro que compositores diziam ‘vocês não vão fazer samba’, e a gente consegue fazer três, quatro horas de samba, sem cantar nenhuma música que ofenda mulheres”.
Na luta contra preconceitos, é importante que os homens não confundam o pedido de igualdade como opressão. Fabíola afirma que o grupo não quer criar uma guerra de sexos: “O Moça Prosa nasceu da ideia de um homem, a gente fala que não queremos uma guerra. A gente quer só sentar numa roda de samba e poder ser reconhecida, respeitada, poder ganhar como eles. Não queremos que eles não estejam no mesmo lugar, queremos que eles nos respeitem”.
Entre os dias 4 e 12 de novembro, a cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, recebeu mais uma edição do festival Rock The Mountain, que contou com uma equipe de artistas completamente formada por mulheres. A iniciativa é muito importante para o fortalecimento da figura feminina nesses espaços de destaque.
Cíntia SanMartin afirma que o apoio de empresas e instituições se deve ao avanço das discussões feministas: “Acho que as instituições culturais estão cada vez mais apoiando (mulheres nesse espaço), por causa dos movimentos das mulheres nas ruas desde 2013. Mas isso não veio das instituições para as mulheres. Foi o oposto. Foi por causa de um levante feminista, uma explosão feminista”.
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