Dados do Censo 2022 apontam que mais da metade da população brasileira é composta por mulheres; especialistas atribuem o fenômeno à maior mortalidade masculina
Repórter: Rebeca Passos
Editor: Gabriel Amaro
O Censo Demográfico de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em novembro, indica que 51,5% da população brasileira é feminina. O número de nascimentos de homens supera o de mulheres e a população masculina é maior nas primeiras faixas etárias; porém, a proporção se inverte após os 25 anos. Especialistas em geografia populacional atribuem essa mudança à sobremortalidade masculina, impulsionada por fatores externos como homicídios e acidentes de trânsito.
No contexto estadual, o Rio de Janeiro apresenta a maior proporção de mulheres, cerca de 53% (8.477.499), enquanto São Paulo tem o maior número absoluto, com 23 milhões. Por outro lado, em estados como Mato Grosso, Roraima, Tocantins e Acre, a população masculina é mais numerosa.
Homens morrem mais que mulheres em todas as faixas etárias, particularmente na juventude. Essa assimetria se dá por fatores sociais, com destaque para a violência, que afeta principalmente homens jovens, pretos e pardos das periferias, e a negligência com a saúde. Gabriel Barros, coordenador operacional do Censo Demográfico 2022 do IBGE no estado do Rio de Janeiro, diz que o desequilíbrio, embora significativo, é influenciado por outros fatores que afetam a dinâmica populacional.
O especialista ressalta que, desde a década de 80, houve um aumento na população masculina total, embora sua proporção em relação às mulheres tenha diminuído. Ele atribui essa mudança a uma combinação de fatores: a taxa de fecundidade e mortalidade vem diminuindo progressivamente, reflexo da ampliação do atendimento primário e da universalização da saúde no país, o que contribui para um aumento na expectativa de vida. Contudo, apesar desses avanços que visam melhorar a qualidade de vida da população, o crescimento da violência nos últimos anos resulta em taxas de sobremortalidade masculina que se destacam nos indicadores demográficos.
A pesquisa revela que a dimensão populacional dos municípios impacta a distribuição de gênero. Áreas com maior número de habitantes tendem a ter uma predominância feminina. Gabriel esclarece que esse fenômeno decorre de dois processos simultâneos. Primeiramente, municípios maiores tendem a ser mais urbanizados e oferecem uma gama mais ampla de serviços, incluindo saúde, o que atrai uma maior população feminina. Em segundo lugar, nos municípios menores, com população inferior a 100 mil habitantes, nota-se uma redução no número de homens jovens, resultante da migração destes em busca de oportunidades de trabalho em centros urbanos de médio e grande porte.
Marcela Padilha, geógrafa do departamento de Turismo e do Instituto de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), diz é essencial implementar políticas que reduzam a violência e a desigualdade, com foco especial em jovens pobres e negros. Ela defende a necessidade de investir em educação de qualidade para a juventude para proporcionar oportunidades de crescimento.
Além disso, Marcela argumenta que devemos atentar para a crescente população idosa, especificamente para a saúde do homem, tanto na prevenção quanto no cuidado: “Temos no Brasil uma tradição de achar que homem não precisa se cuidar, que ele é forte e que ir ao médico regularmente é um indicador de fragilidade. Precisamos romper com esse falso pensamento e adotar medidas de incentivo ao cuidado da saúde masculina”.
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