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  • Carlos Cavalcante

Locadoras de filmes resistem à era dos streamings

Situadas em bairros da zona sul do Rio de Janeiro, a Storm Vídeo e a Cavideo se reinventam para manter ativo o empréstimo de filmes


Repórter: Carlos Cavalcante

Editora: Larissa Mafra


José Carlos, proprietário da Storm Vídeo Locadora e Sebo/ Foto: Carlos Cavalcante


Quem passeia pelas ruas de Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, talvez não imagine encontrar, na Galeria Castelinho, um recanto nostálgico que abriga uma locadora de filmes. Ao entrar pelas portas da loja ‘J’, depara-se com inúmeras prateleiras repletas de DVDs e livros, muitos acomodados até no chão, devido à falta de espaço. No fundo do estabelecimento, é possível observar um senhor que atende os clientes ou observa a entrada dos visitantes. Embora tal cenário fosse comum há alguns anos, as locadoras vêm perdendo espaço desde o início da popularização dos streamings no Brasil, que possibilitam o acesso a filmes e séries sem a necessidade de mídias físicas.


Contudo, apesar de dados como os divulgados pela associação Pró-Música Brasil, no Relatório sobre o desempenho do Mercado Fonográfico Brasileiro que apontam uma queda de 87% no faturamento do comércio de DVDs em 2022, totalizando apenas 374 mil reais, comparado a cerca de 3 milhões em 2021 algumas locadoras resistem e buscam se reinventar para continuar existindo. A pesquisa Streaming 2022, realizada pela Hibou, apresenta uma queda no interesse por mídias físicas de vídeo, apontando que 71% dos entrevistados assina ou já assinou algum serviço de streaming de filmes/séries.


José Carlos Alves Menezes, conhecido como Zé Carlos, 62 anos, é proprietário da Storm Vídeo Locadora e Sebo, localizada na Rua Gomes Carneiro, em Ipanema. Zé Carlos compartilha que o estabelecimento que completa 31 anos sob sua gestão, foi assumido em 1992 por acaso: “Eu caí de paraquedas e estou aqui há 31 anos, praticamente. Gostei, foi uma experiência nova, nem um pouco programada. Não tinha feito curso de cinema, não entendia. Era uma pessoa que gostava de cinema”, relembrou.


A Netflix chegou no Brasil em setembro de 2011, com a proposta de oferecer um extenso catálogo de filmes por streaming pelo valor de R$ 15,00. À medida que o serviço conquistava popularidade, as locadoras, que já sofriam com o aumento da pirataria na internet, se depararam com outro obstáculo, que dessa vez, seria quase impossível de ultrapassar. Mesmo que as pesquisas recentes revelem um maior interesse dos brasileiros por assistir filmes de maneira online, existem aqueles que tentam manter velhos hábitos vivos.


A Storm Vídeo é conhecida por muitos moradores da zona sul do Rio, com clientes antigos e outros recentes. Timothy James Young, 70 anos, aposentado e morador do Flamengo, conhece a locadora há 15 anos, mas só começou a frequentá-la ativamente há dois: “Ele (Zé Carlos) é muito conhecido porque tem uma variedade de filmes que eu não conheço em outro lugar. Aqui é a melhor fonte para achar filmes dos anos 40, 50 e 60 em DVD”, afirma o cliente.


Zé Carlos explica que não sentiu um grande impacto quando a gigante locadora de filmes americana, a Blockbuster, chegou ao Brasil em meados dos anos 90, mas reconhece que as coisas mudaram com a ascensão dos streamings. Ao testemunhar o fechamento de outras locadoras de filmes, ele confessou que não se imaginava fazendo algo diferente.


Outro empreendedor que mantém sua locadora de filmes ativa é o cineasta e produtor Cavi Borges. Localizada atualmente na Rua das Laranjeiras, no bairro Laranjeiras, a ‘Cavideo’ inicialmente propôs oferecer filmes de luta para aluguel. A ideia surgiu após Cavi, que é ex-judoca, sofrer uma lesão que o impediu de competir nas olimpíadas de 1996. No entanto, ao perceber que o nicho não era viável, os planos mudaram: “Antes de inaugurar, a gente começou a focar nos filmes de arte, e a partir daí, eu comecei a pesquisar e aprender um pouco mais sobre cinema. Foi um trauma do judô que me levou a abrir a locadora”, compartilhou o ex-atleta.


Cavideo, locadora e espaço cultural em Laranjeiras/ Foto: Carlos Cavalcante



Ao perceber que a Cavídeo não estava dando retorno, Borges conseguiu fechar uma parceria com a Rio Filmes, que cedeu um local para abrigar o acervo em troca de acesso gratuito aos filmes. Com essa mudança, o empreendimento tornou-se um espaço cultural, com acesso gratuito a qualquer DVD, além de livros. Além disso, tornou-se um ponto de encontro para discussões sobre cinema, arte e abriga eventuais exposições. Isso assegura a continuidade da locadora, cuja receita provém das suas atividades como produtora cultural e distribuidora. O cineasta afirma que cerca de 30 visitantes frequentam o local diariamente, incluindo pesquisadores e estudantes que buscam por filmes e livros raros que possuem no acervo.


A oferta de filmes difíceis de encontrar é um ponto que os dois locais têm em comum, por isso várias pessoas recorrem a esses espaços. Timothy enfatiza que a dificuldade de achar essas produções em streaming é o que o motiva a procurar a Storm Vídeo: “Para mim, a grande fonte de filmes que gosto, que são dos anos 40, 50, principalmente 60, estão em DVD. Não existe no streaming”, disse.


Consciente da diminuição do interesse por aluguel de filmes, Zé Carlos decidiu transformar metade da locadora em um sebo de livros, além de oferecer DVDs à venda. O aluguel das mídias possui o preço fixo de R$ 7 reais, já a venda de filmes varia entre R$ 7 e R$ 25, e os valores dos livros são baseados pelo site Estante Virtual.




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