Superlotação, pressão das empresas e falta de manutenção dificultam o cotidiano de passageiros e motoristas
Repórter: Juliana Nascimento
Editor: Eduardo Dias
Foto: Juliana Nascimento
Horas no trânsito, acúmulo de funções, superlotação, falhas no ar condicionado e muitas reclamações dos passageiros. Os motoristas de ônibus no Rio de Janeiro têm uma rotina cheia de desafios e estresse, o que pode comprometer a saúde física e mental desses profissionais.
Luciano Alves, de 38 anos, foi motorista por cinco anos da Empresa de Transporte Braso Lisboa, operadora da linha 711, que liga Rocha Miranda ao Rio Comprido. Durante esse período, já chegou a ser agredido por um passageiro e decidiu abandonar o ônibus para não revidar e ser demitido por justa causa: “Já infartei três vezes, tenho família para criar, eu mudei para uma empresa de turismo para fugir da loucura do trânsito, é muito pesado”. Luciano também lembra da pressão exercida pela empresa: “Eles querem descontar tudo do nosso pagamento. Antes o cobrador verificava a roleta e a gente (motorista) as avarias, agora se tiver algum problema no ônibus (fora do relatório), descontam do motorista”.
A linha 711 faz aproximadamente 91 paradas até chegar ao seu destino final. Mesmo com uma frota de ônibus novos, a falta de manutenção do ar condicionado e o longo intervalo entre um ônibus e outro são reclamações frequentes entre os usuários da linha, como o enfermeiro Lucas Luz, de 28 anos: “Já fiquei quase uma hora esperando e a fila só crescendo. Quando o ônibus chegou, tava uma molhadeira só. É impossível sentar na janela sem tomar um banho de água de ar condicionado”, contou indignado.
Os ônibus da empresa Braso Lisboa têm avisos fixados que recomendam que viajem 41 passageiros sentados e 40 passageiros em pé, mas na prática não é isso que acontece. Em média, são 45 minutos de intervalo e a longa fila que se forma faz com que o ônibus já saia lotado do Rio Comprido, chegando a levar 150 passageiros por viagem, considerando o fluxo de pessoas que sobem e descem a cada ponto de parada. “Quanto mais passageiros a gente carregar, melhor. A empresa não tá nem aí se o passageiro vai sentado na nossa cabeça ou se vai xingar a gente”, conta um motorista que trabalha há dois anos na linha, e prefere não ser identificado.
Máxima atenção no trânsito para evitar acidentes é o objetivo do aviso “Fale com o motorista somente o indispensável”, mas que frequentemente é ignorado. Situações de estresse, xingamentos e discussões desnecessárias podem tirar o motorista do foco na condução do veículo. Aconteceu algum problema na sua viagem de ônibus? Entre em contato com a Central de Atendimento ao Cidadão, através do número de telefone 1746, informando o número da linha, número de ordem (localizado na lateral do ônibus), data e hora do ocorrido, endereço e ponto de referência. Nesse canal de relacionamento da Prefeitura do Rio de Janeiro, o passageiro pode, além de registrar reclamações, relatar situações de desconforto, tirar dúvidas ou fazer alguma sugestão.
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