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  • Juliana Nascimento

Jogo africano de tabuleiro conquista alunos no aprendizado da matemática

A Mancala é um jogo que estimula o pensamento estratégico e valoriza a cultura afro-brasileira nas salas de aula


Repórter: Juliana Nascimento

Editor: Sabrina Jacob


Foto: Nova Escola/Edson Ikê

A Mancala é uma família de jogos de tabuleiro originários do continente africano, que explora conceitos matemáticos. Seu uso nas escolas se apoia na Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira. Os resultados pedagógicos alcançados com a utilização do jogo se mostram positivos.


Gabriela Franklin Laurindo é professora de matemática da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro (Seeduc-RJ) e da Prefeitura Municipal de Macaé. Pesquisadora de jogos africanos desde sua graduação, ela escolheu se aprofundar nesse modelo por ser possível trabalhar a concentração, o raciocínio lógico e explorar conceitos matemáticos como soma, subtração, divisão, frações, probabilidade e estatística. “O mais importante para mim é perceber que o jogo de Mancala aproxima os alunos da matemática, principalmente os que têm medo dela”.


O estudo do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) publicado no ano de 2018 mostra que o desempenho do Brasil em matemática ficou abaixo da média em todos os níveis avaliados na pesquisa.


Amanda Vieira, jovem de 18 anos e aluna do último ano do ensino médio, relata que se sentia um fracasso na matemática e chegou a pensar em sair da escola por vergonha. “Não dava para ficar na escola, o professor achava que se me desse mais tarefas eu iria entender a matéria, mas isso não acontecia. Com o jogo de Mancala, eu não me transformei na melhor aluna mas, pelo menos, eu consigo entender. Queria ter conhecido esse jogo lá no ensino fundamental”.


Usando o modelo educativo em sala de aula, Gabriela Franklin teve sucesso com uma turma do 9º ano que era composta exclusivamente por alunos com baixo desempenho escolar. Três desses alunos passaram de indisciplinados para exemplares: “Chamavam eles de alunos-problema, porque eram difíceis mesmo, não paravam quietos, mas, para jogar, eles se transformaram, assimilaram as regras e as estratégias. Foram os melhores jogadores de Mancala que eu já tive, e os monitores do jogo na feira de ciências da escola”, relembra orgulhosa.


Para Franklin o jogo de Mancala não pode ser considerado responsável pela diminuição das taxas de reprovação. “O que acontece é uma aproximação ou reaproximação dos alunos. Quando eles ‘baixam a guarda’ e aprendem o jogo, a autoestima intelectual deles melhora, e outros conteúdos da matemática vão sendo compreendidos também”, avalia a professora Gabriela.


Mancala na educação escolar


Foto: Prefeitura do Rio de Janeiro

A Mancala faz parte do Material Rioeduca/2022, uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro que visa enriquecer o currículo do 7º ano. Este jogo tem sido utilizado como uma ferramenta pedagógica eficaz para ensinar conceitos programáticos enquanto estimula a pesquisa sobre sua origem e as diversas variações existentes.


O jogo recebe diferentes nomes dependendo da região, como “Oware” na África Ocidental, “Kalah” na África do Sul e “Congkak” no Sudeste Asiático. Conhecido também como ‘jogo da semeadura', seu objetivo é colher as sementes da terra. Algumas das variações partem da filosofia do ‘dar para receber’ e outras são de ‘defesa e ataque'.


No Oware, variação do jogo em Gana, as peças são compartilhadas entre dois jogadores que precisam semear as sementes em ambos os terrenos (lados do tabuleiro) e só assim é possível fazer a colheita (ganhar). “A regra principal do jogo diz que quanto mais sementes conseguimos dar ao vizinho (oponente), mais semente recebemos. Os alunos não acreditavam que tinham que dar sementes para seus inimigos, porque essa é uma lógica diferente da maioria dos jogos, e ninguém quer perder ou fracassar. Quando eles entendem as regras ficam sempre muito surpresos e montam uma estratégia para jogarem de novo”, explica Gabriela.


20 anos da Lei 10.639


A lei que torna obrigatório o ensino da cultura e da história afro-brasileira nas escolas está há duas décadas em vigor. De 1.187 secretarias municipais de Educação, apenas 5% possuem uma área especializada para abordar conteúdos educacionais de relações étnico-raciais, somente 8% têm um orçamento dedicado à implementação da legislação e 74% não possuem nem mesmo profissionais com qualificação específica, aponta a pesquisa realizada pelo portal Geledés – Instituto da Mulher Negra e Instituto Alana.


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