Interesse por produtos de décadas passadas aumenta número de colecionadores
Repórter: Carlos Cavalcante
Editor: Miguel de Paula
O sentimento de nostalgia está no ar, e com ele, o desejo de consumir produtos que poderiam ser considerados obsoletos até alguns anos atrás. As vendas de discos de vinil tiveram um aumento de 13,2% nos primeiros nove meses de 2023, segundo dados divulgados pela BPI – British Phonographic Industry, via Music Week. Os números contrastam com as vendas do ano anterior, que tiveram apenas um aumento de 2,9%.
A crescente venda de discos de vinil aponta para uma tendência que tem se fortificado atualmente no Brasil: o apreço por consumir itens populares em décadas passadas. O colecionismo pode ser feito com diversos tipos de produto, seja roupas de outras décadas, artigos de decoração vintage, até produtos de mídia, como LPs, fitas vhs, CDs e videogames antigos. Uma pesquisa realizada pelo Guia dos Melhores, uma plataforma de avaliação de produtos online, entrevistou cerca de 500 brasileiros de diversas idades, gêneros e regiões, e 83% dos entrevistados, disseram sentir uma conexão emocional com produtos dos anos 80, 90 e 2000, e também 49% disseram que consomem produtos dessas décadas.
Matheus Bruzzi, de 27 anos, estudante de jornalismo coleciona itens como CDs, DVDs e câmeras fotográficas. Ele ressalta que pegou a transição dessas mídias para o digital, e que continuar comprando traz um sentimento de nostalgia. Além disso, Matheus acredita que itens antigos têm um valor especial que os diferencia dos produtos novos: “O valor especial seria o sentimento de nostalgia da infância da maioria das pessoas que eu conheço que usam esses tipos de itens. Existe também um forte apelo estético, além da sensação de fazer algo que vai "contra" o que todo mundo tá usando ou fazendo“, afirma.
Com o aumento no interesse por produtos de outras décadas, é claro que surgiria também a vontade de vender esses itens. Muitos colecionadores e pessoas que viveram os anos dourados desses artigos decidiram apostar no empreendimento e vender objetos antigos. Um deles é o Artino Jordão, de 63 anos, que junto ao seu sócio, Marcelo Bittencourt, começaram a comercializar CDs, DVDs e discos de vinil. Com uma banca de vendas que marca presença todo sábado, na praça XV, o comerciante acredita que a nostalgia e o apego pelo material físico é o que motiva colecionadores buscarem seus produtos: “Muitos clientes, quando vem aqui, dizem que o vinil tem um som diferente, então tem aquele apego pelo material físico. São os verdadeiros colecionadores que querem ter esse material”, disse Artino.
Algo que deve ser levado em conta na arte do colecionismo, é que existem produtos que são raros e os preços podem variar bastante. Artino ressalta que dependendo da raridade do produto, ele pode ter um preço elevado: “Um cantor que tem apelo no mercado exterior, que o pessoal gosta do tipo de música dele, pode fazer com que o disco seja mais caro. Existem também aqueles discos raros, que foram tiradas poucas cópias, e aí eles são mais caros do que o comum. Os mais populares, que tiveram muitas cópias na época, esses já vendemos mais barato, porque encontramos com mais facilidade”, ressalta.
Colecionar não é algo fácil, principalmente quando se trata de artefatos muito antigos. Bruzzi pontua que encontra algumas dificuldades na hora de comprar produtos para sua coleção: “Quando é de alguma loja especializada em produtos antigos de mídia, acaba sendo mais caro. A condição do item também, independente do lugar. Muitas vezes, os CDs vêm arranhados ou com a capa quebrada ou desbotada pelo sol’, afirma o estudante.
Geração Z e a onda retrô
Com o surgimento de redes sociais, é possível ver a Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) ter um interesse por coisas que foram moda em décadas passadas. Um exemplo claro disso é o retorno da cena emo, que foi muito influenciado por e-girls e e-boys, que são pessoas dessa geração que adotam uma estética com influências do emo e referências dos games, animes, e mangás, e com o colecionismo de itens antigos não é diferente. Ao procurar vídeos no tik-tok sobre esse assunto, é comum você esbarrar em conteúdos feitos por essa galera, o que mostra o interesse desses jovens por esses artigos.
Ronaldo Lima, 45, trabalha com games antigos há mais de 20 anos e também afirma que percebe esse interesse dos mais novos em comprar produtos de outras épocas. O vendedor diz que já viu crianças pequenas se interessando por jogos antigos por causa dos pais, e também por verem vídeos na internet. Matheus Bruzzi acredita que esse interesse da nova geração por produtos de outras décadas se dá ao fato de que eles não conseguiram pegar certas épocas como a das cybershot, por talvez estarem em desuso na época que eram crianças. O estudante finaliza dizendo que a tendência é o interesse permanecer ou até mesmo aumentar cada vez mais coisas antigas de diferentes segmentos também.
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