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  • Rafael Lopes

Invisíveis: deficientes auditivos permanecem sem assistência

Cordão para identificação de deficiências ocultas não é garantia de direitos


Repórter: Rafael Lopes

Editor: Sabrina Jacob


Cordão de girassóis é utilizado para identificar pessoas com deficiências ocultas - Foto: Agência Senado

Definida como a diminuição da capacidade de ouvir, a surdez é considerada uma deficiência oculta, isto é, incapaz de ser detectada num primeiro momento. Além das barreiras impostas pela comunicação, a invisibilidade imposta pela condição é uma dura realidade enfrentada pela comunidade, que conta com cerca de 10 milhões de pessoas no Brasil, segundo levantamento do IBGE em 2021.


O preconceito e a dificuldade no alcance de direitos são algumas das dificuldades enfrentadas. Caetano Escobar, estudante de medicina de 21 anos e deficiente auditivo desde os 10, detalha a realidade hostil causada pelo preconceito: “Já escutei muito aquela frase. ‘Fala baixo, você é surdo, por acaso?’. Mesmo usando o aparelho auditivo, também já desacreditaram da minha condição quando tentei usufruir do meu direito à gratuidade.”


Nesse contexto, o símbolo do girassol foi apropriado para a identificação de pessoas da causa. Em julho de 2023, o Senado Federal sancionou a lei 14.624, que torna o cordão de girassóis um símbolo nacional da luta em prol dos direitos das pessoas com deficiências ocultas, como a surdez.


O uso da fita de girassóis no fundo verde também contempla pessoas com deficiência cognitiva e autismo. O símbolo já era utilizado em outros países e algumas regiões do Brasil, mas tornou-se oficial e válido em todo o território. A utilização do cordão é opcional e funciona para identificar as pessoas.


Porém, é engano pensar que a identificação resolve o problema. A inclusão de pessoas surdas encara uma barreira ainda maior: o baixo número de profissionais aptos para se comunicar em LIBRAS. No Brasil, das 10 milhões de pessoas com algum nível de surdez, 27% não ouvem nada, ou seja, só conseguem se comunicar pela linguagem de sinais.


Como agravante, a LIBRAS não é ensinada nas escolas brasileiras. Reflexo principal dessa situação, a dificuldade no acesso à educação e saúde é cotidiana para milhões de pessoas. Carlos Eduardo Abranches, de 19 anos, é intérprete e explica o quanto a falta de profissionais aptos para comunicação segrega a população surda. "Minha tia é enfermeira de uma UPA. Um dia, ela precisou que eu socorresse uma mulher surda que estava grávida. Ninguém no posto de saúde conseguia entender as queixas dela."


No que diz respeito à educação, os números confirmam a falta de acesso da população surda. Dados levantados pelo Instituto Locomotiva em 2019 revelam que apenas 7% dos deficientes auditivos têm ensino superior completo, enquanto 32% não possuem grau algum de instrução. Exceção a regra, Caetano é estudante de Medicina e defende que a verdadeira transformação vai além da identificação. “A população, em geral, não sabe o que significa o girassol num fundo verde, o brasileiro médio não conhece nossos costumes e nem nossa linguagem". O jovem acredita que ainda há um caminho muito grande para a inclusão da população surda ainda na sociedade.


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