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  • Giovanna Garcia

Evasão de público nos teatros: o desafio cultural do Brasil

Incentivo à cultura não altera a ausência de plateia nos espaços


Repórter: Giovanna Garcia Editora: Larissa Mafra


Teatro Municipal do Rio de Janeiro/ Imagem: Site/ Cultura Rj Gov

A evasão de público nos teatros é uma realidade tanto no Rio de Janeiro quanto em todo o Brasil. Entre janeiro e maio de 2023, o Governo do Estado do Rio de Janeiro investiu 42,2 milhões de reais por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Além disso, no segundo semestre deste ano, a Fundação Nacional de Artes (Funarte) lançou editais de alcance nacional, visando encontrar soluções para a sobrevivência do teatro nacional. Entretanto, a presença de espetáculos não garante o comparecimento do público.


De acordo com a pesquisa “Hábitos Culturais III”, conduzida pelo Itaú Cultural em parceria com o Datafolha em 2022, que englobou diversas regiões do país, apenas 32% das pessoas declaram estar dispostas a assistir espetáculos de teatro presencialmente.


A principal questão é: por que o público está se distanciando dos palcos? Diversos fatores contribuem para esse cenário, incluindo a desvalorização da cultura, o consequente desinteresse do público, os preços elevados dos ingressos e as condições precárias dos teatros e de suas localizações.


Um exemplo é Geovanni Felix, um jovem de 21 anos, morador do Morro do Estado, em Niterói, que nunca teve a oportunidade de experimentar o teatro como espectador, assim como sua mãe e avó. Embora em 2013, tenha se apresentado como violinista no Teatro Municipal de Niterói, por meio da Orquestra Popular Acadêmica da Cubango – grupo popular que, infelizmente, não existe mais.


Para Felix, a falta de estímulo por parte das escolas e de outros órgãos culturais é um fator significativo. Ele afirma que “a maioria das peças não tem muita qualidade, aqui não é igual à cidade do Rio, que tem grandes espetáculos”. Em sua cidade, existem, em média, seis teatros para cerca de 481.758 pessoas, de acordo com o censo do IBGE em 2022.


Geovanni não está sozinho nessa perspectiva. Um estudo conduzido pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) e a Fundação Perseu Abramo, com 2,4 mil entrevistados em 25 estados, revela que seis em cada dez brasileiros nunca assistiram a uma peça teatral. Além disso, 61% das pessoas nunca viram uma peça de teatro em qualquer lugar, e 57% nunca estiveram em um teatro.


Marcelo Andrade, produtor, ator e professor, argumenta que a falta de aderência do público às apresentações não se deve à falta de qualidade, mas sim à mudança nos gostos e hábitos da audiência. “Hoje em dia, o stand-up, por exemplo, é muito procurado”, exemplifica.


Lara Scotelaro, uma atriz registrada pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Rio de Janeiro (Sated-RJ) e atuante no meio artístico desde 2015, compartilha sua experiência: “Pude vivenciar dois extremos em períodos diferentes. Com a peça ‘Retalho de Nós’, lotamos o Teatro Abel no início de 2019, parecia que as pessoas estavam felizes de estar ali. Já em 2022, no pós pandemia, nós viajamos para outra cidade. No teatro CDL em Rio Bonito, nos apresentamos para apenas duas pessoas na plateia”. A atriz acredita que isso não se deve a um trabalho ruim ou a uma divulgação inadequada, mas sim a uma falta de valorização da cultura por parte da sociedade.


O desinteresse do público cresce a cada ano, principalmente após o período de pandemia e o crescimento de novas formas de lazer online, como os streamings. No entanto, a situação precária do teatro carioca não é uma novidade.

Sala Fernanda Montenegro no Teatro Leblon/ Foto: Márcio Menasce / O Globo

Em 2017, surgiu a hashtag #TeatroSim nas redes sociais e também na transmissão de um vídeo nos teatros, com a presença de atores famosos como Mateus Solano, Edson Celulari, Antonio Fagundes e outros artistas. O objetivo era destacar a importância do teatro para a sociedade após o anúncio de que as salas Marília Pêra e Fernanda Montenegro do Teatro Leblon (RJ) seriam fechadas. A campanha foi financiada por Marcos Caruso e organizada pelo produtor Carlos Gun. Na época, as salas não foram fechadas definitivamente.


Desde então, o teatro enfrentou crises financeiras e, em 2019, conseguiu reabrir após alguns meses de fechamento, graças a um novo patrocinador. Em 2022, encerrou suas atividades definitivamente devido à perda de patrocínio. Em 2023, o espaço foi vendido para a Igreja Batista da Lagoinha e deixou de existir.

Os teatros estão buscando outras opções para sobreviver. O Cine-Theatro Central, localizado em Juiz de Fora (MG), tem um diferencial. Como forma de promover mais eventos no espaço e prestigiar o local histórico, são realizadas as formaturas dos cursos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em Niterói e em outras cidades, os teatros, especialmente no final do ano, são ocupados por diversas apresentações de escolas de dança locais. Ambos os exemplos atraem um tipo de público que não é habitual neste espaço.


No entanto, ainda existem aqueles que estão frequentemente lotados, mesmo com ingressos caros. O Theatro Municipal do Rio de Janeiro, por exemplo, é um dos mais tradicionais da cidade e é o local onde acontecem os maiores balés, óperas e concertos. O preço dos ingressos varia de 100 a 500 reais, mas a maior parte de seus 2.205 lugares costuma ser preenchida. A atriz da novela “Vai na fé”, Clara Serrão, afirma que, além da questão dos ingressos, o maior problema dos teatros do Rio é que eles estão geograficamente concentrados nas áreas centrais e na Zona Sul, com pouca presença na Baixada e na Zona Oeste. Afinal, esses espaços surgiram historicamente na cidade como o locais de lazer da grande elite carioca e ainda mantêm essa característica.

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