Coletivo TransParente luta por reforma e reconhecimento de prédio que faz parte da história de Niterói
Repórter: Giovanna Garcia Editor: Larissa Mafra
Foto: A tribuna
Abandonado desde 2019, o prédio “Espaço DCE” da Universidade Federal Fluminense (UFF), localizado ao lado do Campus Valonguinho em Niterói, enfrenta condições precárias. O espaço, que já foi símbolo de luta, resistência e democracia, hoje se encontra marcado por pilhas de lixo, um intenso cheiro de mofo e uma estrutura desabando.
O edifício de cinco andares já abrigou um anfiteatro, salas de aula, biblioteca, bares e até locais para atividades atléticas. Apesar do abandono e da suspensão de suas atividades, o Coletivo TransParente mantém atividades no teatro da instalação, com ensaios diários do grupo.
O coordenador do projeto e ex-aluno de cinema da Universidade, Marcos Campello conta que o Coletivo nasceu em 2016, no Espaço DCE. “Nosso berço é o DCE, nossa casa. Dependemos dele até hoje para existir, senão ficamos sem lugar para ensaiar. O palco é muito importante para quem faz teatro e aqui temos um palco muito bonito. Estamos tentando manter limpo e organizado” explica o cineasta.
Imagem do Coletivo Transparente em 2023/ Foto: Capello
O objetivo do Coletivo é militar em prol da causa LGBTQIAPN+ por meio do teatro, música, poesia e cinema. A maioria dos membros são estudantes da UFF que desempenham papéis cruciais na criação, direção e atuação das produções. O projeto atua em diferentes áreas, incluindo o acolhimento de pessoas da comunidade LGBT no Museu do Amanhã e a orientação sobre atendimento e preenchimento de cadastro de pacientes LGBT, em colaboração com os alunos de enfermagem e medicina, além de professores da Universidade e do Hospital Pedro Ernesto.
Além disso, eles realizam atividades e brincadeiras em escolas secundárias para promover reflexões e discussões relacionados à diversidade, como transfobia nos banheiros e a proibição desses indivíduos de doarem sangue. A ideia é formar uma geração menos preconceituosa e mais inclusiva em relação à população LGBT.
Em dezembro de 2019, ocorreu a última apresentação dos alunos no teatro, aberta ao público e gratuita. Os espetáculos eram recorrentes e serviam para mostrar à população as atividades e criações dos meses anteriores. Nesta época, o teatro ainda tinha condições de receber o público e o bar também abria para atendimento.
O estudante de geografia e atual coordenador de Cultura da nova gestão do Diretório Central de Estudantes da UFF, Jean Pirola, também já fez parte da história do Coletivo Transparente. “Lembro de uma peça que atuei com uma amiga em 2018, haviam umas cem pessoas no teatro. Na ocasião, ele já estava meio detonado. A última reforma que fizeram, eu acho que foi nos anos 90”, recorda o estudante. Jean acredita que a gestão anterior não conseguiu reabrir o prédio, enquanto a gestão atual busca financiamento para reformar o teatro e planeja reabri-lo neste semestre.
Imagem do Jornal O Globo de 1990
A luta pela manutenção do teatro não é recente. Em um artigo do jornal O Globo de 1990, o espaço já enfrentava dificuldades de manutenção, falta de verbas, pagamento atrasado de funcionários e, principalmente, falta de reconhecimento.
A antiga gestão do DCE afirmou ter procurado as autoridades. “Em 2019, procuramos a Prefeitura de Niterói para reformar pelo menos o teatro, dada a sua importância histórica para a cidade de Niterói. Só que aí veio a pandemia e não conseguimos dar seguimento a esse projeto com a prefeitura”, explica Yana Santana, ex-coordenadora geral do DCE da UFF.
Yana, aluna de direito, acrescentou que o prédio do DCE é de responsabilidade do próprio diretório e que a gestão nunca recebeu apoio financeiro da universidade. No entanto, independente da gestão, a estrutura depende da instituição para conseguir recursos. Ela ressalta que a estrutura antiga do prédio torna o processo de recuperação mais custoso, uma vez que é necessário investir mais dinheiro para restaurá-lo.
O Espaço DCE desempenhou um papel importante na história da UFF e na cidade de Niterói. Durante a ditadura militar, enquanto a maioria dos diretórios centrais de estudantes eram perseguidos e mantidos por meios ilegais, o diretório da Universidade permaneceu aberto, legítimo e reconhecido. Foi e ainda é um centro de debate político que garante a liberdade dos estudantes. No período de redemocratização do país, o teatro foi construído e recebeu o nome de MPB-4 em homenagem à banda que o inaugurou.
HÁ 30 ANOS: O MPB-4 toca para estudantes na inauguração do teatro do DCE/ Foto: Raimundo Neto/05-10-1985
Inicialmente, o propósito do teatro era utilizar aquele espaço cultural para denunciar a repressão e promover a cultura e arte que estavam sob perseguição. Aberto ao público, o anfiteatro da UFF ainda é um importante refúgio cultural que recebeu artistas renomados, como Gilberto Gil.
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