As estrelas do sambódromo contribuem para sociedade por meio da educação e de iniciativas populares
Repórter: Giovanna Garcia Editor: Sabrina Jacob
As escolas de samba do Rio de Janeiro desfilam uma vez ao ano no sambódromo da Marquês de Sapucaí. No entanto, as escolas não estão preocupadas apenas com a competição. Desde a década de 80, as escolas do grupo especial têm promovido uma série de iniciativas que têm mudado a vida de crianças e jovens cariocas. Atualmente, todas as escolas de samba do Rio de Janeiro que estão no grupo especial promovem algum tipo de projeto social para a comunidade.
Por meio de atividades como oficinas, escolas como Estação Primeira de Mangueira, Unidos do Viradouro, Portela e Mocidade Independente de Padre Miguel investem nas suas comunidades e desenvolvem estrelas para dentro e fora do sambódromo. Com cunho social, educacional e cultural, esses movimentos crescem demonstrando a responsabilidade do papel social das escolas como liderança local.
Mangueira: gerando de novos atletas
Aghata Jaine, de 18 anos, faz o projeto de ginástica rítmica na Vila Olímpica da Mangueira desde seus 5 anos. “É um projeto muito importante para mim, porque é o meu lar, é onde eu cresci e eu amo estar lá. Ele não propõe apenas ginástica rítmica, mas amizade e sabedoria. Além de ser o responsável pelo meu maior sonho, me formar em educação física e dar aula em projetos sociais, também, para crianças.”
A Estação Primeira de Mangueira foi a primeira escola de samba a desenvolver um projeto social em 1988 e, também, a obter a certidão de assistência social CEBAS. Certificado concedido pelo Governo Federal e dado às organizações sem fins lucrativos reconhecidas por serem beneficentes de assistência social que prestam serviços na área de educação, assistência social ou saúde. Com esse certificado, as organizações conseguem isenção dos impostos referentes à contribuições sociais.
O Programa Social da Mangueira já possui 35 anos. Dentro dele existe o Instituto Mangueira do Futuro (IMF), que surgiu para gerenciar a parte esportiva, assim como o Instituto Profissionalizante Mangueira (IP Mangueira) para profissionalizar a comunidade e a escola mirim “Mangueira do Amanhã”, que permite que as crianças da Mangueira participem do carnaval na Sapucaí.
O projeto esportivo educacional é administrado pelo IMF com o apoio financeiro da Petrobras. Cerca de 3 mil crianças e adolescentes, com idade entre 6 meses a 17 anos são beneficiadas.
Vários alunos conseguiram crescer com as iniciativas do IMF. Entre eles destacam-se Gabriel Constantino, atleta de Atletismo, Erika Souza e Isabela Ramona do Basquete, Thaiane Justino do Levantamento de Peso e Isaac Souza, saltos ornamentais. Todos eles foram alunos e atletas no Centro de Referência Esportiva Mangueira. Além disso, a sobrinha da Erika Souza, Manu Souza, é uma das atletas de basquete no instituto, seguindo os passos da tia.
Unidos do Viradouro: projetos reconhecidos pela UNESCO
O Instituto Viradouro Pedro Leon Monassa Bessil voltou às suas atividades neste ano com a presidência de Palloma Bessil e idealização de Marcelo e Marcelinho Calil, a partir do apoio da escola mãe, Viradouro. No entanto, o instituto foi criado por volta dos anos 90, tendo como responsável o avô da Palloma. Na época existiam projetos de esporte, informática e odontologia. O projeto chegou a ganhar um prêmio da UNESCO de 100.000 atendimentos, mas depois de um tempo que seu avô faleceu, o instituto fechou.
Nesse ano foram iniciadas 5 oficinas de canto, corte e costura, percussão, mestre sala e porta bandeira e de samba no pé. Foram inscritos, em média, 200 alunos na faixa etária de 6 a 21 anos - exceto a oficina de adereço, que é de 16 anos sem limite de idade.
João Oliveira se tornou o terceiro mestre de sala da Unidos do Viradouro em 2020. Conseguiu alcançar o posto de destaque no carnaval carioca, graças ao concurso de casais com participantes do projeto de mestre-sala e porta-bandeira que ele participava desde 2018, anterior à volta do instituto. "Eu comecei muito jovem, eu estava passando pela aquela fase do adolecente que já acha que é adulto e toma decisões precipitadas. A dança e o projeto de mestre sala e porta bandeira fez com que eu repensasse minhas atitudes e levasse para vida melhorias"
Além de mestre de sala da escola mãe, João é instrutor da oficina de mestre sala e porta bandeira. "Como eu fui tratado muito bem como aluno, hoje trato todo mundo muito bem como instrutor. Se eu puder levar essa arte pro mundo eu vou levar, sempre com muito coração, muito foco e principalmente responsabilidade com os alunos”
“Virando o Futuro”, projeto social do Instituto Viradouro, é coordenado por Pedro de Oliveira, que também é Diretor de Carnaval da Escola Mirim da Viradouro, defende as escolas mirins como um ambiente de oportunidade: “A galera que participa da oficina de percussão, por exemplo, e consegue aprender, vai ser puxada para a bateria da escola mirim e vai desfilar na sapucaí. Então, é uma oportunidade, a criança/ adolecente entra no projeto e conhece de perto esse universo do carnaval “
As escolas de samba mirim são parte do movimento de valorização das raízes, o objetivo é preservar as tradições das escolas de samba mãe, além de incluir as crianças e jovens na celebração cultural do carnaval para assim perpetuá-las.
Portela: criando as novas rainhas
A Filhos da Águia, escola mirim que tem como mãe a escola de samba Portela, começou a ser pensada no final dos anos 90, mas só saiu do papel em 2001 e desfilou pela primeira vez em 2005. São 18 anos de desfile e 22 de existência.
Celsinho Soares, presidente da escola mirim, ressalta com orgulho a relação da escola mãe com a mirim. ”Aqui na Filhos da Águia, temos um paradigma muito importante, começamos a 7 anos atrás, contando a história da Portela. Os nossos enredos são os sambas da Portela, a história e a cultura do samba. Para que as crianças que quiserem seguir no samba, saibam quem era a Portela, como ela se comportou desde sua fundação com Paulo Caetano e Rufino, isso tem seu lado social.”
Ana Carolina Antunes, conhecida como Carolzinha Antunes, musa da FIlhos da Águia, tem 16 anos e está na escola mirim há 12 anos. Por meio do projeto social “Samba para sempre” com a professora Nilce Fran, ela pode se tornar musa da mirim e passista da escola-mãe Portela. “Na filhos da águia sou apresentadora, jornalista, sou um pouquinho de tudo porque a escola me abriu muitas portas para conhecer meus talentos que eu nem conhecia. Além de que proporciona o reconhecimento no mundo do samba, afinal meu sonho é ser Rainha da minha escola ou musa da comunidade”.
A escola mirim da águia conta também com projetos sociais desde a sua formação. Atualmente, estão sendo realizados projetos de adereço e costura, percussão e samba no pé. Eles têm uma parceria com a UFF (Universidade Fluminense Federal) que oferece monitoria e tutoria para graduandos da comunidade. Além disso, o plano é começar a implementar o reforço escolar para os estudantes das escolas básicas.
O presidente Celsinho acredita que os projetos sociais gratuitos das escolas de samba são como um investimento e valorização do crescimento do público juvenil. “Atualmente, cerca de 60% a 70% dos ritmistas da Portela iniciaram na Filhos da Águia. Dois cantores do carro de som iniciaram na escola mirim e o diretor musical do salgueiro começou na Filhos da Águia. Algumas pessoas que passaram ou ainda estão na escola são formadas em faculdade de TI, Jornalismo e em farmácia. Quando você vê isso, te dá uma satisfação. Eu acho que quem está à frente de uma escola mirim não pode ver só o samba, mas tem que formar o cidadão.”
Mocidade independente de Padre Miguel: notáveis trabalhos voluntários
A Estrelinha da Mocidade, a escola mirim filha da Mocidade Independente de Padre Miguel, atende crianças e adolescentes com deficiência e também aqueles que foram retirados do trabalho infantil e/ou submetidos a outras violações de direitos, além de realizar oficinas de percussão e samba no pé.
Suas atividades buscam propiciar experiências favorecedoras ao desenvolvimento de sociabilidade e prevenção de situações de risco social. No início do ano de 2022, no contexto de pandemia do covid-19, a escola mirim distribuiu alguns kits escolares e caixas de bombom para as crianças.
Além disso, Estrelinha ainda desenvolve trabalho voluntário de apoio às famílias das crianças da comunidade, através de ações sociais, tais como: cortes de cabelo, recreação, palestras de incentivo e informação, higiene bucal e oferecimento de almoço à comunidade. Este trabalho é realizado pela diretoria da escola mirim e por voluntários da comunidade.
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