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Gabriel Amaro

Eleições 2024: PSOL desafia Eduardo Paes na disputa pela prefeitura do Rio

Antecipação da pré-candidatura de Tarcísio Motta busca fragmentar apoios e reposicionar esquerda no cenário eleitoral carioca


Repórter: Gabriel Amaro

Editor: Bernardo Monteiro


Na montagem: Tarcísio Motta e Eduardo Paes - Fotos: Divulgação/PSOL na Câmara e Tânia Rêgo/Agência Brasil

O PSOL lançou a pré-candidatura do deputado federal Tarcísio Motta à prefeitura do Rio de Janeiro em setembro, um ano antes das eleições municipais de 2024. A antecipação tem um propósito claro: tentar fragmentar o apoio dos partidos de esquerda ao atual prefeito, Eduardo Paes (PSD), que almeja a reeleição e pode contar com o apoio do presidente Lula (PT). Paralelamente, o PL de Jair Bolsonaro busca consolidar um nome conservador para a disputa. A conjuntura aponta para uma disputa que envolve não apenas questões locais, mas também a configuração política nacional.

Após vencer a indicação interna do PSOL contra Renata Souza e Glauber Braga, Tarcísio pretende conquistar apoio de partidos como PT, PSB e PDT, atualmente aliados de Eduardo Paes. O argumento do PSOL é que a tendência de Paes em escolher Pedro Paulo (PSD-RJ) como vice indica uma exclusão da esquerda.

Luana Calzavara, doutoranda e mestre em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj), entende que a estratégia do PSOL pode não causar divisão no eleitorado de esquerda. “O PSOL tem tradição em lançar candidatura própria no Rio. É de se esperar que eles mantenham o nome do Tarcísio. Eduardo Paes não é de esquerda, então as candidaturas, por si só, não rachariam o eleitorado,” diz a especialista. Ela destaca que o verdadeiro desafio poderia ser “uma disputa pelo apoio do Lula”.


Por outro lado, Theófilo Rodrigues, cientista político e pesquisador do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pontua que a decisão do PSOL é acertada, especialmente considerando os movimentos recentes de Paes. “Eduardo Paes já está em campanha pela sua reeleição, atraindo novos partidos de direita para o seu secretariado”, disse Rodrigues.


Paes nomeou o parlamentar Chiquinho Brazão (União-RJ) para a Secretaria Municipal de Ação Comunitária no dia 3 de outubro. Chiquinho é irmão de Domingos Brazão, ex-deputado e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que está sob investigação pelo suposto envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco, ocorrido em 2018.


Além disso, Paes entregou a Secretaria de Integração Metropolitana a Marcos Dias Pereira, irmão do Pastor Everaldo – ex-candidato à presidência em 2014 e atual vice-presidente nacional do Podemos. No PSOL, a estratégia de Tarcísio é aglutinar insatisfeitos com a aliança de Paes, focando principalmente no PT, visto que o partido apoiou Guilherme Boulos (PSOL-SP) em São Paulo.


Lindbergh Farias (PT-RJ) já manifestou apoio a Tarcísio, enquanto outros membros do PT, como Washington Quaquá e André Ceciliano, preferem Paes e discutem os detalhes da aliança. A cúpula do partido pressiona por um vice petista na chapa de Paes, e, como gesto conciliatório, o prefeito concedeu ao PT as secretarias de Assistência Social, Economia Solidária e Meio Ambiente.


Segundo Rodrigues, a antecipação da pré-candidatura permite a Tarcísio maior visibilidade e a oportunidade de compartilhar suas propostas com o eleitorado. Esse movimento é vital, sobretudo considerando a possibilidade de Motta buscar apoio significativo, como um palanque para Lula no Rio.


A estratégia de Paes e o apoio de Lula


Com três mandatos como prefeito e o apoio de figuras políticas de peso, Eduardo Paes tem uma trajetória sólida para relembrar. De acordo com a doutoranda em ciências políticas, Paes se apoia fortemente em sua história e atuação como prefeito: “Eu acredito que Paes continue utilizando a memória do eleitor como alavanca, centralizando em seus feitos em todos esses anos de prefeitura”.

Ela ainda sugere que esta experiência possa ser usada como uma ferramenta contra adversários sem um histórico no Executivo. Além disso, a aprovação do presidente Lula pode ser um trunfo. Luana Calzavara argumenta que o carisma de Lula, somado ao de Paes, pode reforçar a posição do atual prefeito.

Presidente Lula e Eduardo Paes na visita à obra do novo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA TECH) no Porto Maravilha. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Mesmo sem conquistar o estado nas eleições de 2022, Lula garantiu um expressivo percentual de 47% dos votos na capital fluminense. Rodrigues ressaltou que a grande vantagem de Paes seria no segundo turno, quando é esperado que a maioria dos eleitores de Lula migre para ele. “O problema de Paes no primeiro turno é que uma parte relevante do eleitorado de Lula votará em Tarcísio”, apontou o cientista. No entanto, segundo ele, o desafio mais significativo de Paes reside na tentativa de atrair votos do campo bolsonarista.


Direita em busca de um nome

Generais Braga Netto e Eduardo Pazuello. Foto: Carolina Antunes/PR

Mesmo com uma base conservadora considerável no Rio de Janeiro, a direita enfrenta desafios para definir seu representante. “Os partidos políticos de direita estão com dificuldade de organizar a oferta de um nome viável para o ano que vem”, explica Calzavara. A saída de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) da disputa e as denúncias contra o general Walter Braga Netto (PL-RJ) complicam ainda mais esse cenário.


O recuo de Braga Netto, ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro, é atribuído a dois principais fatores: as repercussões negativas de uma operação da Polícia Federal que investiga possíveis irregularidades relacionadas à alocação de recursos durante a intervenção federal na segurança do Rio, e também a recente hesitação do próprio Braga Netto em avançar com a candidatura.

Rodrigues destacou a influência persistente do bolsonarismo na cidade, lembrando que “Bolsonaro venceu a eleição no Rio em 2022 com cerca de 52% dos votos”. Diante desses acontecimentos, ele ponderou que a escolha para a direita na próxima eleição poderia se centrar em nomes como Dr. Luizinho (PP-RJ) e Eduardo Pazuello (PL-RJ).

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