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Ana Beatriz Dias

Diagnóstico de autismo em crianças cresce no Brasil

Educação inclusiva e abordagem multidisciplinar são essenciais no tratamento do Transtorno do Espectro Autista


Repórter: Ana Beatriz Dias

Editor: Gabriel Amaro


O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por desvios comportamentais na interação social, na comunicação e na linguagem. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE), 2 milhões de pessoas no Brasil são autistas — cerca de um entre 36 brasileiros diagnosticados é uma criança. O aumento na detecção do transtorno é impulsionado pelos avanços científicos, que possibilita diagnósticos mais precisos e uma melhor compreensão sobre o transtorno.


2 de abril: Dia Mundial da Conscientização do Autismo - Foto: Senado Federal

Eduardo Jorge, neuropediatra do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), explica que os primeiros sinais de autismo podem aparecer já nos primeiros dois anos de vida. Porém, o período em que o transtorno fica mais evidente é entre o segundo e o terceiro ano, quando as crianças começam a frequentar as creches e precisam desenvolver as habilidades da linguagem.


O especialista destaca que o diagnóstico de TEA envolve uma equipe multidisciplinar — que pode incluir fonoaudiólogos, pedagogos e psicólogos, além dos médicos — e avaliações adaptadas para diferentes idades, já que não há exames específicos para confirmar a condição. “Temos um instrumento chamado ‘testagem neuropsicológica’, que é pareado por faixa etária. O TEA não tem marcador biológico, não é possível fazer exames como ressonância magnética, eletrocardiograma ou então algum outro. Estas investigações ajudam em determinadas condições, mas não dão o diagnóstico,” diz Eduardo.


Milene Cézar é mãe de Débora, uma menina de nove anos que foi diagnosticada com TEA aos dois anos e meio. Os primeiros sinais do autismo apareceram quando Débora tinha apenas dez meses. Milene percebeu que a filha apresentava problemas de desenvolvimento, principalmente na fala e na mobilidade: “Ela não mantinha contato visual, acompanhava o ventilador de teto o tempo todo. Também demorou a andar e teve atraso na fala, que foi o que mais me chamou atenção. O diagnóstico veio cedo porque eu desconfiei que ela não estava se desenvolvendo, ficou evidente demais para mim.”


Segundo o neuropediatra, o TEA é uma condição difícil de identificar visualmente, diferentemente de condições como a Síndrome de Down. Ele ressalta que a sociedade em geral tem um conhecimento limitado sobre os símbolos usados para identificar pessoas com deficiências ocultas, como o cordão do autismo ou de girassol.


O colar de girassol é usado para identificar pessoas com deficiências ocultas - Foto: Ana Branco

Ao longo dos anos, Milene enfrentou diversas situações desconfortáveis com sua filha. Ela observa que, atualmente, esses episódios são menos frequentes, especialmente porque Débora carrega consigo uma identificação. A mãe reforça que a falta de sensibilidade das pessoas foi o principal problema: “Existe uma grande diferença entre segregar, incluir e promover interação, nem todo mundo entende isso.”


Apesar dos avanços na conscientização, Eduardo nota que ainda existe um estigma associado ao autismo; as crianças sofrem preconceito principalmente por dificuldades sociais e com a linguagem. “Nosso objetivo é fazer o possível para que crianças e adolescentes estejam cada vez mais funcionais. Contudo, para isso ser possível, tem que trabalhar a sociedade. A discriminação não é só com o autista, qualquer portador de necessidades especiais passa por dificuldades,” afirma o neuropediatra.


Ter uma filha com TEA transformou a forma como Milene vê o mundo. Ela conta que aprender a observar os comportamentos e as necessidades da filha a tornou uma pessoa mais empática e paciente: “As crianças autistas nos mostram que precisamos entender as vontades, os gostos e as peculiaridades dos outros.”


Milene está otimista em relação à vida escolar de Débora. A mãe se emociona ao falar sobre um episódio recente em que a criança participou de uma peça de teatro na escola. “Ela fez tudo perfeitamente bem, eu quase chorei com aquela cena, me marcou tanto. Antes eu ficava com medo de ela não conseguir fazer amizades, agora posso ficar tranquila em relação a isso, porque vejo que cuidam dela,” diz Milene.


O papel dos profissionais da educação no desenvolvimento de crianças autistas


O quebra-cabeça é o símbolo mais conhecido do TEA e representa a diversidade - Foto: Getty Images

Telma Santana, pedagoga da Escola Municipal Ronald de Carvalho, salientou a importância do Planejamento Educacional Individualizado (PEI) no desenvolvimento dos alunos com TEA. Segundo ela, os educadores e agentes de apoio trabalham juntos para elaborar atividades personalizadas. A cada bimestre, é realizado um relatório para medir o progresso dos alunos. “É muito importante que o profissional participe das formações e troque experiências com as famílias dos alunos autistas, para que a gente consiga saber o que está progredindo neles,” afirmou Santana.


Já Carmen Mendes, pedagoga da Escola Municipal Joaquim da Silva Gomes, disse que a educação inclusiva foi transformadora em sua vida. Ela acredita que a escola atua como um ambiente acolhedor, especialmente quando as famílias são resistentes a aceitar a condição dos filhos: “Entendo que a escola é o lugar onde os pequenos podem receber um bom acolhimento, abraços e carinho. Eu estudei para melhorar a vida e a autoestima do aluno, preciso contribuir para o bem-estar dele, faço o que for preciso para isso.”


Ela destacou o uso de recursos visuais e sensoriais, como cartões de imagem e atividades grupais, para estimular o aprendizado e a socialização dos alunos autistas. “Entregamos estímulos visuais como cartões de imagem, símbolos e atividades sensoriais, a fim de facilitar a aprendizagem. Também realizamos atividades em grupos que ajudam a ampliar a socialização e a interação com os amigos”, esclareceu a pedagoga.


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