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Carlos Cavalcante

Dia do Saci: uma alternativa brasileira ao Halloween

Data busca valorizar o folclore brasileiro em contraponto às tradições importadas


Repórter: Carlos Cavalcante

Editor: Gabriel Amaro

Representação do Saci Pererê - Foto: Freepik

O 31 de outubro é geralmente associado ao Halloween nos Estados Unidos. No Brasil, contudo, essa data também é dedicada ao Dia do Saci. A ideia surgiu da Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci), formada por jornalistas incomodados com a popularização do Halloween em território brasileiro. A data representa uma alternativa à comemoração do Dia das Bruxas, e valoriza elementos culturais nacionais autênticos em um momento em que a globalização faz proliferar tradições estrangeiras.


Em 2003, a Sosaci propôs a ideia ao deputado Aldo Rebelo Figueiredo, que apresentou o Projeto de Lei Federal nº 2762/2003 para oficializar o 31 de outubro como o Dia do Saci. O projeto, no entanto, foi arquivado. Uma década depois, em 2013, o deputado federal Chico Alencar (PSOL) e a vereadora Ângela Guadagnin (PT) ressuscitaram a iniciativa através do Projeto de Lei Federal n.º 2.479, apoiado pela Comissão de Educação e Cultura.


Andriolli Costa, professor da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e criador do podcast Poranduba e do site Colecionador de Sacis, destaca o humor como a estratégia brasileira de contrapor o Halloween. “Na época, o pessoal fez muitas ilustrações, com o saci comendo abóbora, jogando futebol com ela. Que o Halloween vai continuar existindo, a gente sabe. Existe esse enfrentamento, que não é direto, mas quando temos o saci ali, enquanto uma lembrança, convidamos as pessoas pensarem em outras possibilidades”, afirma o especialista.


O Dia do Saci pode não ser tão popular quanto o Halloween, mas isso não significa que não seja celebrado. Eventos em homenagem a uma das lendas mais famosas do Brasil ocorrem em várias cidades, como São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo, que realizará a 21ª edição da Festa do Saci. O município de Caçapava, também no estado paulista, receberá o Sarau do Saci. Chico Nunes, professor de filosofia, criou a Saciata em 2006: uma passeata em que os participantes saem pela Avenida Paulista pulando com uma perna só e usando um gorro vermelho.


A promoção do Dia do Saci em escolas é vista como crucial para instigar nas crianças um senso de identidade cultural brasileira. Andriolli, que frequentemente é procurado por instituições de ensino em busca de orientações sobre como celebrar a data, sugere que as escolas não descartem completamente a ideia do Halloween, mas que o recontextualizem à luz do folclore nacional. “Convide eles a pensar, por exemplo, que em Portugal já usavam abóboras para espantar maus espíritos. Elas eram conhecidas como ‘cocas’, e a derivação da coca vira a nossa Cuca, que é o bicho-papão. Convida essas crianças a pensar na bruxa do Brasil, as bruxas locais que também são muito famosas”, recomenda o professor.


Origem e popularização do saci


Escultura do saci exposta no Museu de Folclore Edison Carneiro, no Rio de Janeiro - Foto: Carlos Cavalcante

O saci-pererê tem sua origem ligada aos tupi-guaranis, no Sul do Brasil. O mito era conhecido como “yacy-yateré” e era diferente do saci atual: ele tinha cabelos loiros, usava um bastão de ouro e um chapéu de palha. A lenda se espalhou por todo o país e absorveu características de outras lendas regionais que apresentam seres semelhantes, como a caipora na região central e a Matinta Pereira na região Norte.


A influência das culturas indígena e africana trouxe o hábito de fumar cachimbo e a perda de sua perna em uma luta de capoeira. A carapuça vermelha é herança do folclore europeu — o item também é visto em gnomos e duendes.


A lenda do saci se popularizou através da representação constante nas obras de Monteiro Lobato. Em 1917, o escritor realizou um inquérito no jornal O Estado de São Paulo para coletar respostas de leitores sobre o que eles sabiam sobre o mito. Ele lançou o livro “O Sacy-Pererê: Resultado de um Inquérito” em 1918 com base nas respostas. Esse foi o primeiro livro no Brasil sobre o saci e foi responsável por popularizá-lo. Lobato adaptou a lenda para o público infantil em 1921, quando escreveu a obra “O Saci”, que introduziu o mito ao Sítio do Picapau Amarelo.



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