A pressão acadêmica é um dos principais fatores para que os sofrimentos psicológicos dos universitários se agravem
Repórter: Bruna Silva
Edição: Miguel de Paula
O bem-estar dos alunos é um dos pontos de atenção das instituições de ensino do Rio de Janeiro em 2023. Dentre os principais fatores para que a saúde mental entre em colapso está a rotina exaustiva. A cobrança constante por um bom desempenho e por notas altas acaba fazendo com que os estudantes se sintam ansiosos e sobrecarregados.
Júlia Trindade, de 21 anos, estudante de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sofre com o transtorno de ansiedade há dois anos. A carioca fala que chegou a trancar a faculdade por não conseguir conciliar os estudos com a sua vida pessoal.
“Eu fui percebendo que o meu rendimento estava baixo. Estava tendo muitas crises e por causa disso eu achei melhor me afastar da universidade por um tempo e procurar uma forma de me tratar”.
Situações como as de Júlia são recorrentes entre os estudantes do Ensino Superior. De acordo com dados da pesquisa realizada pela Fiocruz, feita em 2022, cerca de 45% dos alunos da graduação foram diagnosticados com ansiedade e 17% com depressão. Um dos principais fatores associados a problemas de saúde mental dos universitários é a pressão intensa da rotina e também da vida acadêmica.
O Departamento de Acolhida, Saúde Psicossocial e Bem-Estar do Estudante (DASPB), vinculado à Pró-reitoria de Políticas e Assistência Estudantis (PR-4) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), promoveu a quarta mostra de práticas em saúde e bem-estar do estudante que aconteceu nos dias 04 e 05 de outubro. Os estudantes participaram de diferentes dinâmicas para refletirem e discutirem sobre a importância do debate sobre a saúde mental. Além disso, foram estimulados a pensar em estratégias de cuidado e acolhimento.
Além de sofrerem com prazos de entregas de avaliações, os estudantes ainda têm que lidar com a pressão por parte dos professores, que contribuem para o desgaste emocional. Livia Ribeiro, graduanda no curso de Direito da Uerj, relatou que devido às crises de ansiedade geradas por um docente da universidade, a aluna teve que abrir mão de sua presença nas aulas. ”Eu sinto que a maioria dos professores temem qualquer responsabilidade. Alguns já me fizeram pensar em desistir da faculdade”.
Segundo a psicóloga Noemi Baptista, os problemas de saúde mental podem ter um impacto negativo no rendimento acadêmico, na vida social e na saúde física dos estudantes. A profissional afirma que transtornos psicológicos podem dificultar a concentração, a aprendizagem e os relacionamentos interpessoais, bem como podem aumentar o risco de suicídio. Baptista acrescenta, também, que os magistrados também precisam prestar atenção à sobrecarga dos alunos.
“O estudante, assim como os professores e demais trabalhadores precisam de autoconhecimento, espaço de fala e escuta, bem como um apoio para suas questões. A solução está em um processo coletivo. É importante também o professor indicar ajuda profissional para alunos que estejam passando por sofrimentos psíquicos.”
De acordo com a OMS, por ano, mais de 700 mil pessoas tiram a própria vida. O suicídio é a quarta causa de morte mais recorrente entre os jovens de 15 a 29 anos. Uma outra pesquisa de 2022 da organização, apontou que 35% dos universitários de diversos países apresentam sintomas de ansiedade ou depressão. O SUS oferece atendimento gratuito nas unidades básicas de saúde através dos centros de atenção psicossocial, onde esses jovens podem encontrar ajuda e seguir um tratamento adequado. Além disso, o Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e VoIP (Voz sobre IP) 24 horas todos os dias. Ligue para o número 188 ou acesse o site.
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