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Rafael Lopes

Crise de insegurança alimentar: a ameaça à saúde pública brasileira

Mais de um terço da população enfrenta desafios no acesso à alimentação


Repórter: Rafael Lopes

Editora: Larissa Mafra


Arte ilustra a desigualdade no acesso à alimentação

Foto: Ministério da Saúde


A insegurança alimentar, um desafio cotidiano enfrentado por cerca de 70 milhões de pessoas no Brasil, é um problema caracterizado pelo acesso irregular a uma dieta adequada em termos de quantidade ou qualidade. Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentos e Agricultura (FAO) revelam que 30% dos afetados vivem em extrema precariedade. Casos de subnutrição e obesidade são algumas das consequências do quadro, que acende o alerta na saúde pública do país.


Fora desse cenário desde 2014, o Brasil voltou ao Mapa da Fome em 2022. A recente crise socioeconômica, agravada pela pandemia, é o fator chave no aumento do número de pessoas nessa situação. Em 2019, a quantidade de afetados era de 43 milhões, três anos depois o número é 63% maior.


As implicações para a saúde são profundas. A insegurança alimentar não apenas leva à deficiência de nutrientes essenciais, mas também resulta em excesso de sódio e gordura no organismo. Isso, por sua vez, ocorre pela adoção de dietas baseadas em alimentos ultraprocessados de baixo custo.


A nutricionista e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Elda Tavares ressalta as consequências negativas causadas pela insegurança alimentar: “As primeiras restrições são produtos de origem animal, como carne, frango, peixe e derivados do leite, devido ao seu maior valor. Esse conjunto é fonte de energia, proteína, vitaminas e minerais importantes, portanto, substituições por ultraprocessados mais baratos representam um risco à saúde.” Elda explica que produtos como a salsicha, por exemplo, são ricos em sódio e aditivos químicos, aumentando o risco de certos tipos de câncer.


O alto consumo de carboidratos, sais e gorduras provenientes dos industrializados também amplia o risco de sobrepeso e obesidade. Além disso, a falta de ferro e vitaminas A e B12 provindos de alimentos de origem animal pode levar à anemia e desnutrição. A baixa ingestão de frutas, legumes e verduras também é altamente prejudicial, uma vez que a absorção de fibras é crucial no combate às doenças crônicas e evita a constipação intestinal.


Os problemas não param por aí: o quadro também é uma barreira para o desenvolvimento infantil. Devido à grande necessidade nutricional, crianças até os seis anos de idade e gestantes são o grupo de maior risco, visto que a baixa captação de nutrientes atrapalha o alcance do potencial genético. Consequentemente, o cenário é de baixo peso e estatura, além do risco de sobrepeso e doenças crônicas no futuro.


A professora enfatiza que a atual situação é agravada por mais um fator: a propaganda. "A ação da propaganda impacta cada vez mais no consumo dos ultraprocessados, produzidos em larga escala e ofertados em preços acessíveis. Isso faz com que a população que enfrenta a insegurança alimentar desenvolva novos hábitos alimentares.” Para ela, quanto menor a renda das famílias, mais impactante é o peso da alimentação em seu orçamento, especialmente em um contexto de hiperinflação e custo elevado da cesta básica. O apelo desses produtos é constante e atinge todas as classes, mas afeta de maneira mais significativa os grupos mais vulneráveis.


Brasil sem fome e o combate à insegurança alimentar


No início do mês, o governo Lula lançou o programa Brasil Sem Fome. O projeto tem como meta final retirar o país do Mapa da Fome até 2030, e para isso, irá trabalhar para reduzir anualmente as taxas de pobreza e insegurança alimentar grave.


Programa Brasil Sem Fome

Foto: Site Gov.br


O objetivo é contemplado pelo cumprimento de três eixos de ação: acesso à renda, alimentação saudável e adequada, e mobilização social. No primeiro eixo, são traçadas políticas socioeconômicas que envolvem projetos como o Bolsa Família e ações como a valorização do salário mínimo, além do incentivo à capacitação profissional. O segundo eixo visa o abastecimento da população, e uma das suas frentes é o incentivo à agricultura familiar: serão destinados R$25 milhões para a compra de alimentos do setor, com o intuito de abastecer mais de 1000 cozinhas solidárias em todo o país. Por fim, a última base prevê a participação ativa de estados e municípios na causa, além da realização de caravanas por todo o Brasil e organização de redes de iniciativa na sociedade civil.



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