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Ana Beatriz Dias

Clubes de bairro e do interior do Rio ficam até 8 meses parados devido ao calendário de jogos

Times tradicionais chegam a jogar apenas 30 partidas por temporada


Repórter: Ana Beatriz Dias

Editor: Bernardo Monteiro


O Campeonato Carioca de Futebol é a competição de clubes mais importante do estado do Rio de Janeiro. Realizado anualmente entre janeiro e abril, o torneio representa uma chance para os times de bairro e do interior mostrarem seu valor. Contudo, a maioria dessas equipes não participa das grandes divisões nacionais, o que resulta em calendários mais esvaziados e períodos de até meia temporada sem jogos.


Treino do time do Bangu, no Estádio Proletário Guilherme da Silveira Filho - Foto: Ana Beatriz Dias

O Rio possui o maior número de times profissionais do Brasil, somando 25. No entanto, à exceção dos chamados “quatro grandes” (Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco), o futebol carioca está abaixo do seu potencial. Clubes como Bangu, Madureira e Resende são centenários, com relevância cultural e histórica, mas não conquistaram o reconhecimento merecido ao longo dos anos.


Um fator crucial nesse cenário é a mídia. Com o foco majoritariamente voltado para os maiores clubes — que atraem mais torcedores e patrocínios —, as demais equipes enfrentam desafios para se destacarem. Times menores não alcançaram o mesmo sucesso e podem até ser considerados os segundos times de alguns cariocas. No caso de Duque de Caxias e Macaé, as equipes só conseguiram crescer graças ao apoio de suas prefeituras.


Diferente de São Paulo e Minas Gerais, onde times de menor expressão frequentemente competem nas Séries B e C do Brasileirão, no Rio, a realidade é a quarta divisão. Entre as equipes do estado, a do Volta Redonda é exceção, mantendo-se estável desde que subiu para a Série C em 2017.


Bangu Atlético Clube


Vestiário do Bangu Atlético Clube - Foto: Ana Beatriz Dias

Fundado em 1904, o alvirrubro da Zona Oeste é bicampeão carioca (1933 e 1966) e um dos primeiros a combater o racismo no elenco. Em 1905, o operário Francisco Carregal foi escalado contra o Fluminense e tornou-se o primeiro atleta negro a jogar uma partida no país. Além disso, o clube ganhou notoriedade por eliminar a divisão de classes nas arquibancadas, permitindo que torcedores de todas as classes sociais assistissem aos jogos juntos.


Estátua de Thomas Donohoe no Bangu Shopping - Foto: Reprodução

Para Allan Pereira, fotógrafo do time, o Bangu é um clube folclórico do Rio. “O escocês Thomas Donohoe trabalhava na fábrica e apresentou o futebol aos seus funcionários. O primeiro jogo no Brasil aconteceu em um terreno do bairro (em 1894), dez anos depois, o time foi fundado. Vários jogadores importantes já passaram por aqui, Marinho, Zizinho, Mauro Galvão, Renato Gaúcho, entre outros. O Bangu Atlético Clube é um patrimônio histórico, pioneiro do esporte.”


Sem conquistar a classificação para a Série D desde 2021, o clube tem disputado apenas o Carioca. Pereira alerta sobre a instabilidade contratual dos atletas: “Após o Cariocão, eles têm que procurar outras formas de conseguir renda. Com o calendário cheio, os jogadores poderiam permanecer nos clubes”.


Time do Bangu campeão carioca em 1933 - Foto: Ana Beatriz Dias

O goleiro Gabriel Barboza observa que, hoje, o Bangu não vive seu melhor momento. No entanto, por ter mais de cem anos de existência, é inegável o tamanho e a importância do alvirrubro. Barboza também conta sobre a expectativa dos atletas para o Estadual e a vontade de jogar o Campeonato Brasileiro. “É grande, porque a gente volta a receber. Disputar o nacional seria bom porque nós teríamos mais oportunidades, principalmente porque têm jogos durante a temporada toda.”


Renato Rosa, volante da equipe, indica a falta de investimento como um limitador para os clubes menores. “Comparado aos grandes, a gente sai em desvantagem, por causa da pouca verba. O time tem muita tradição e é uma vitrine para nós (jogadores). Porém, a gente não consegue ter estabilidade jogando somente aqui.”


Lucas Ribeiro, atacante do Bangu, sugere que a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) deveria dar mais atenção a esses clubes, especialmente em relação ao número de partidas disputadas. “Mudar o formato e colocar dois turnos seria bom, pois já seria uma maneira de ampliar o nosso calendário.”


Volta Redonda Futebol Clube


Conhecido como "Voltaço", o clube foi fundado em 1976 e representa o melhor desempenho entre os times menores no Campeonato Carioca. Disputando a Série C há seis temporadas, segue em busca da classificação para a segunda divisão. Para o zagueiro Marcão Costa, o clube do interior fluminense já conquistou sua importância no cenário nacional. “O Volta tem crescido graças aos planejamentos que estão sendo feitos. Pelo comprometimento dos dirigentes com a nossa instituição, o time ganha destaque de forma progressiva.”


Na visão do jogador, todo atleta profissional sonha em jogar contra as melhores equipes. “Quando enfrentamos os times maiores do Rio, temos a oportunidade de mostrar o nosso trabalho e fazer com que ele seja reconhecido. Ao meu ver, jogar ao lado destes atletas demonstra quem nós somos e prova que temos condições de estarmos ali. Eu aproveito essas partidas, espero um dia chegar onde eles estão.”


Costa vê a eventual oportunidade de o Volta Redonda competir na elite do futebol brasileiro como um grande feito. “Se continuar com a boa gestão, tem condição de chegar lá. Quem ganha com isso também é o futebol, não somente o clube. A gente (jogador) vive o esporte, só queremos praticar ele da melhor forma que conseguirmos.”


Elenco do Volta Redonda - Foto: Raphael Torres

Madureira Esporte Clube


Conhecido popularmente como “Tricolor Suburbano”, foi fundado em 1914 e é um dos times mais emblemáticos do Rio de Janeiro. Reconhecido por ter lançado talentos como o ex-jogador Marcelinho Carioca, o clube mantém uma tradição de bons resultados nas categorias de base. Em 2010, conseguiu o primeiro acesso para disputar o Campeonato Brasileiro e, no ano seguinte, subiu para a terceira divisão. Apesar disso, desde 2021, disputa somente o Cariocão.


João Victor de Oliveira, membro da equipe administrativa do clube, aponta os desafios financeiros enfrentados no período de maio a dezembro, período em que as competições estaduais estão em recesso. “Durante essa época o salário é menor. No início do ano, por ter um maior número de competição em andamento, é a época que os funcionários conseguem receber mais.”


Além disso, Oliveira enfatiza o impacto significativo do futebol suburbano para a comunidade e a cidade. “Os times de menor investimento, muitas das vezes nas categorias de base, fornecem um trabalho de excelência no quesito desenvolvimento de atletas do Estado, que possibilita que eles alcancem voos maiores. Outro ponto é que os clubes são relevantes para as populações de bairro, porque são peças fundamentais na economia, gerando emprego e movimentação.”


Estádio Conselheiro Galvão, em Madureira - Foto: Felipe Schmidt

No ponto de vista de João Victor, o maior patrimônio que os times menores têm são seus estádios. “Vai muito além de receber jogos, eles movimentam a economia do local e de seus arredores. O Madureira está diretamente ligado ao Mercadão (por estar dentro), e esses motivos confirmam que o bairro tem peso para a cidade e é forte, por grande influência do time,” diz.



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