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Carlos Cavalcante

Cinemas têm dificuldades para trazer de volta público pré-pandemia

Expectativa é de 110 milhões de espectadores em 2023, bem abaixo dos quase 180 milhões de 2019


Repórter: Carlos Cavalcante

Editor: Eduardo Dias


Cinemas brasileiros lidam com baixo público - Foto: Freepik

Para o mercado cinematográfico brasileiro, setembro não foi de primavera. Ao contrário, os cinemas nacionais registraram o terceiro pior final de semana do ano, em termos de bilheteria, na primeira semana de setembro, com pouco mais de  850 mil pessoas em todo o país, segundo a Comscore. Os efeitos da pandemia de Covid-19, as decisões comerciais das administradoras das salas de cinema e a política de preços dificultam a recuperação do setor.


Até a conclusão desta reportagem, o acumulado de público no ano era de cerca de 99 milhões de pessoas, de acordo com o Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual – e a perspectiva é que não passe muito dos 110 milhões. O público dos cinemas vinha em alta: chegou a 172,9 milhões de pessoas em 2015, caiu para 161 milhões em 2018 e subiu para 176,4 milhões em 2019, segundo dados do Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro 2019, publicado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine). 


Gráfico mostrando o número de espectadores nas salas de cinema nos últimos anos - Foto: Carlos Cavalcante

Com a quarentena provocada pela pandemia de Covid-19, a internet se tornou o principal meio de entretenimento. As assinaturas de serviços de streaming cresceram 145% em todo o mundo, e, em 2020, o total de assinantes já tinha alcançado a marca de 1,1 bilhão de pessoas, de acordo com o relatório da Motion Pictures Association (MPA). No mesmo período, por outro lado, o público nos cinemas caiu 78%, segundo a Ancine



Assistir filmes em plataformas de streaming tem se tornado preferência de muitas pessoas - Foto: Freepik

Filmes parecidos e altos valores de ingressos


Além dos efeitos da pandemia, a persistência em focar em produções hollywoodianas em detrimento da variedade de filmes é um dos problemas das grandes redes de cinemas brasileiras. Esta decisão traz lucro e pessoas para as salas, mas a falta de variedade de gêneros cinematográficos pode fazer o público se cansar de assistir obras semelhantes entre si.


Caio Neves, mestre pela linha de Estudos de Cinema e Audiovisual da Pós-Graduação de Comunicação da Universidade Federal Fluminense, ressalta que é preciso de algo, além do filme, para fazer as pessoas saírem de suas casas: “O que chega nas salas de cinema hoje em dia, diferente do que chegava antes da pandemia, está mais concentrado em um tipo de filme específico, que dará mais retorno. As salas comerciais (de cinema) vão ficar cada vez mais concentradas aqui (nas grandes cidades), e vão passar cada vez mais um repertório parecido de filmes”, ressalta.


Este ano, a aposta dos exibidores para tirar o público de casa uniu produções tão diferentes como Barbie, sobre a boneca da Mattel, e Oppenheimer, sobre o criador da bomba  atômica. O primeiro arrecadou mais de 210 milhões de reais no Brasil, enquanto a biografia dirigida por Christopher Nolan já ultrapassou os 50 milhões, de acordo com a Comscore. 


Neves acredita que muitas administradoras de cinemas estão mais preocupadas em vender pipoca e refrigerante do que vender ingressos. “Eu lembro que quando houve o processo de reabertura do Cine Arte UFF pós pandemia, a disputa maior era pra ver quem iria pegar a bomboniere, e não a bilheteria, porque isso que dá mais retorno financeiro”, afirma.


Outra dificuldade para quem quer ir ao cinema é o preço dos ingressos. Atualmente, o custo varia entre as bilheterias, os dias da semana e o tipo de sala. Na rede Cinemark, a média gira em torno de R$14 às segundas e terças, enquanto nos finais de semana uma inteira custa R$40. 


Miki Oliveira dos Reis, 24, estudante de letras, afirma que não consegue ir ao cinema com muita frequência devido ao alto valor dos ingressos: “O ingresso inteiro ta mais de R$30, R$40 e mesmo pagando meia entrada, acaba saindo por R$20, filmes 3D saem ainda mais caro. Sem contar que dependendo do bairro, os valores podem ser maiores”, afirma. 


O questionamento dos telespectadores é se vale a pena pagar um ingresso relativamente caro para assistir um filme, ou pagar uma mensalidade de streaming, que custa, em média, R$30. 


A jovem ressalta que esse problema poderia ser diminuído se houvesse a preocupação do governo e dos grandes cinemas em facilitar o acesso de todos à sétima arte: “Eu acredito que poderia haver ações do governo em conjunto com as empresas de cinemas para possibilitar a inclusão e o acesso de pessoas de baixa renda. Sessões especiais, com valores acessíveis, fariam com que muito mais gente fosse ao cinema”, ressalta a estudante.



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