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Ana Julia Silveira

Cinema Icaraí: A obra que nunca começa

Suspensão de editais traz incerteza sobre o futuro do patrimônio cultural


Repórter: Ana Julia Silveira

Editor: Bernardo Monteiro


Fachada do Cine Icaraí em outubro de 2023 - Foto: Ana Julia Silveira

Desde 2006, o Cinema Icaraí permanece fechado e abandonado em Niterói. Dois editais para sua reforma foram suspensos devido a possíveis irregularidades. Apesar disso, tanto o município quanto o estado reconhecem sua importância, mas o futuro do patrimônio cultural continua incerto.


O ano de 2023 trouxe consigo a esperança de mudança, com a promessa da Prefeitura de Niterói de iniciar as obras de revitalização. No entanto, essa esperança foi frustrada, pois os editais lançados para a reforma enfrentaram o mesmo destino: suspensão devido a possíveis irregularidades contidas no edital elaborado pela Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento de Niterói (Emusa). O primeiro edital foi lançado em janeiro, enquanto o segundo foi lançado em junho deste ano.


A prefeitura foi contactada para fornecer maiores explicações e comentar sobre a previsão do lançamento de um novo edital, mas até o momento de publicação da matéria não houve resposta.

Antigo Cine Icaraí em 2002 - Foto: Reprodução / Pinterest

História e importância do local


O professor de cinema da UFF, Rafael de Luna, frequentou constantemente o cinema durante sua juventude e relembra que "A multidão formada por pessoas dos mais diferentes lugares tinha vindo a Niterói porque a primeira sessão do Cine Icaraí era a que começava mais cedo de todos os cinemas do Rio de Janeiro que também iam estrear o filme”.


O Cinema Icaraí, construído no estilo art déco nas décadas de 1930 e 40, desempenhou um papel significativo na vida cultural de Niterói ao longo de sua história. O local teve sua importância reconhecida através de tombamentos, tanto municipal, quanto estadual. Esse reconhecimento não se limita à preservação de sua arquitetura, mas também abraça sua relevância histórica e cultural.


Beto Correa, niteroiense e professor de história, destaca a importância do Cinema Icaraí como uma opção cultural distinta dos cinemas vinculados às grandes empresas. Ele aponta que o cinema ofereceu uma alternativa aos filmes que faziam parte dos circuitos comerciais, contribuindo para a diversificação da oferta cultural na cidade. “Com o Cine Icaraí, tínhamos filmes alternativos aos grandes circuitos, era mais uma opção na cidade de cinema não atrelado a shopping”.


Já Adilson, comerciante que há 40 anos trabalha em uma banca de revista em frente ao Cinema Icaraí, relata uma queda em seu movimento ao longo do tempo. Ele acredita que a reabertura do cinema poderia revitalizar a área. Segundo ele, um cinema em funcionamento atrairia mais pessoas para a região, aumentando o movimento e valorizando o local: “Quando você tem um comércio numa rua com outros comércios funcionando, enche gente, traz movimento, traz benefícios para os outros comércios perto”.


O professor Rafael de Luna, por sua vez, revela alguns dos bastidores dessa saga. Segundo ele, o prédio foi adquirido devido ao risco de demolição iminente. No entanto, uma crise política impediu que as obras de revitalização acontecessem. A prefeitura assumiu a finalização do Instituto de Artes e Comunicação Social (Iacs), e o valor destinado à conclusão da obra foi transformado em meses de aluguel do Cine Icaraí, que deve ser gerido e reformado pela prefeitura pelos próximos 36 anos.


Um dos principais desafios que persiste é a falta de clareza e transparência em relação à gestão e ao futuro do Cinema Icaraí, como apontado por Luna: "O que eu acho mais problemático é que não há uma clareza, bem como a falta de decisão que deveria partir de audiência pública sobre como vai ser a gestão e o que vai ser exatamente o Cinema Icaraí."

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