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  • Carlos Cavalcante

Cena emo retorna com força total

Eventos e artistas trazem à tona nostalgia de um estilo que ressurgiu nos últimos anos


Repórter: Carlos Cavalcante

Editor: Eduardo Dias


Eventos voltados para o público emo tem crescido nos últimos anos - Foto: iStock

A cidade do Rio de Janeiro, nos próximos meses, será sede do Rock Festival e o I Wanna Be Tour, dois festivais que revivem um fenômeno nos anos 2000: o estilo emo. Esses eventos, combinados com a reunião de bandas que estavam em hiato, como NX Zero e Restart, trazem à tona um movimento cultural significativo há duas décadas. O retorno da cultura emo gera um sentimento nostálgico para quem viveu aquela época e a possibilidade de experimentar pela primeira vez para quem nasceu após o auge do movimento.


O retorno do estilo emo na música e na moda revela sua influência duradoura e a capacidade de se adaptar às mudanças culturais. Esse movimento continua a ser uma forma significativa de expressão artística e pessoal para muitas pessoas em todo o mundo.


Retomada da cultura emo


O retorno do emo está relacionado a questões psicológicas e geracionais. Um assunto que estava sempre em pauta nas músicas era a saúde mental. Os artistas demonstravam sua insatisfação com os pais, relacionamentos ou outras frustrações da vida. Com a evolução da discussão ao passar dos anos, o tema continua presente na vida dos jovens. Segundo o relatório anual Stress in America, produzido pela Associação Americana de Psicologia, a Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) é a mais abalada mentalmente entre todas as gerações, e essa situação influencia na forma que os jovens se expressam. Esse fator, combinado com o saudosismo dos anos 2000, contribui para a retomada do emo.


Ricardo Benevides, professor de Comunicação Social da Uerj e guitarrista das bandas B’side Rockers e Los Skinnys Crocantes, interpreta a retomada do movimento emo como um interesse espontâneo em resgatar coisas que faziam sentido para muitas pessoas: “Sempre que um movimento ressurge com o interesse das pessoas, é porque ele fazia sentido, fazia falta, na verdade, para expressão dos sentimentos, para que os indivíduos conseguissem se afirmar, reconstruindo suas identidades a partir dos gostos artísticos”, afirma.


O professor completa que alguns fatores podem ter contribuído para o retorno do movimento: “Me parece um pouco o espírito do tempo, certa desesperança, melancolia com a experiência diária da realidade, e que muitas vezes leva um indivíduo a procurar e encontrar na arte esse lugar da expressão emocional, de uma esperança diferente do que se vê, do que se tem no real”.


É comum que a popularização de um estilo musical incentive a organização de eventos com aquela temática. Elisa Gomes, DJ e Organizadora da festa “E eu que era emo?”, uma das precursoras dos eventos voltados para os saudosistas dessa cena, afirmou que a ideia surgiu do interesse dos organizadores, que temiam a possibilidade de fracasso: “Optamos por fazer a primeira edição de forma gratuita, num lugar super pequeno, onde a pista não comportava nem 100 pessoas. Com uma semana de quase nenhuma divulgação, apareceram três vezes isso (de público) e a gente soube que era a hora de ir com tudo. A nossa primeira edição ‘oficial' foi em janeiro de 2016 e foi esgotada para mais de mil pessoas”.


A DJ acredita que a nostalgia é o principal motivador de interesse do público para esse tipo de evento: “Se você reparar, não é só o emo que voltou/tá voltando. Eu vejo muito minha geração (tenho 30 anos hoje) se sentindo atraída por todo tipo de nostalgia, que está na música, mas passa pela moda, filmes, tudo, sabe?”, afirma.


Incorporação e adaptação do estilo


Não é possível afirmar qual o fator definitivo que fez o estilo emo retornar com tudo na metade da década passada, mas a forma de se vestir foi incorporada e adaptada por uma nova geração. As e-girls e e-boys são jovens da geração Z que usam roupa preta, maquiagem forte, cabelo colorido, estampa xadrez e acessórios que fazem referências a games, animes e mangás.


Benevides ressalta que moda e música sempre andaram juntos e que isso ocorre há muito tempo: “Desde o Elvis, passando pelos Beatles e os terninhos, depois o metal e adiante na música popular, no samba, pagode, funk, rap, você tem associações muito amalgamadas no imaginário popular do que é se vestir segundo a estética de um gênero musical”, destaca.


Estilo e-girl e e-boy - Foto: Pinterest

Nas festas, a moda é ainda mais presente. Elisa destaca a presença de pessoas “vestidas a caráter” não apenas para a festa, mas como a expressão de um estilo próprio: “Se no começo as pessoas se ‘vestiam de emo’ pra ir na festa, hoje a gente vê cada vez mais pessoas que estão ‘a caráter’ porque se vestem assim e pronto. Acho que essa é uma manifestação muito visível dessa ‘volta’. O emo saindo do espaço de estar só nos fones de ouvido e aparecendo muito forte como um estilo de vida mesmo”, afirma a DJ.


Como gênero musical, o emo evoluiu para se adequar aos gostos e tendências em constante mudança. Alguns artistas desta nova geração, como Olivia Rodrigo, Billie Eilish e Machine Gun Kelly têm trazido influências diretas deste estilo em seus trabalhos, conquistando fãs de todas as idades. Ao mesmo tempo, porém, são criticados por quem acredita que cantores novos só resgatam esses gêneros para obterem mais sucesso. Benevides acredita que há momentos em que essa retomada é por modismo, e que o público precisa prestar atenção com um olhar crítico, mas que em outros casos é mais uma referência ou homenagem ao que já foi produzido anteriormente.


Surgimento e Auge


O movimento emo é uma subcultura musical que teve origem nos Estados Unidos, principalmente na cena punk e hardcore, na década de 1980. O termo "emo" é uma abreviação de "emotional hardcore", uma referência ao estilo emocional e lírico das bandas que faziam parte desse movimento. Ele se caracterizava por letras emotivas, introspectivas e muitas vezes confessionais, que abordavam temas como relacionamentos familiares e amorosos, angústia, tristeza e alienação, mas sem um viés político e anticapitalista, que era presente nas letras dos seus influenciadores.


O auge do movimento emo ocorreu nos anos 2000. Nesse período, bandas como My Chemical Romance, Fall Out Boy, Panic! At the Disco e Dashboard Confessional alcançaram grande popularidade. O emo também influenciou a moda, com muitos adeptos do estilo adotando características como cabelos escuros e franjas caídas sobre o rosto, além de roupas de bandas e acessórios que expressavam sua identidade emocional.


No entanto, à medida que o emo se tornou mais popular e comercializado, também enfrentou críticas, incluindo associações com o exagero emocional e o estereótipo do "emo triste". Algumas bandas se afastaram do rótulo "emo" devido às suas conotações negativas.



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