Apesar dos recursos e da repercussão nas redes sociais, a questão não foi anulada
Repórter: Juliana Nascimento
Editor: Eduardo Dias
A questão 52 do 2° Exame de Qualificação do Vestibular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), para ingresso em 2024, gerou debate sobre gênero nas redes sociais. Segundo o gabarito oficial, a alternativa correta é ‘Redimensionar identidades de gênero’, mas muitos candidatos argumentam que foram induzidos ao erro e que a expressão mais adequada seria 'papéis de gênero'. Após pedidos de revisão e manifestações nas redes sociais, o Departamento de Seleção Acadêmica (DSEA) manteve a validade da questão.
A candidata Maria Cecilia do Carmo, de 17 anos, ficou surpresa com o que considerou um erro grosseiro, ainda mais vindo de uma universidade inclusiva como a Uerj. “Identidade de gênero está relacionada ao gênero com o qual a pessoa se identifica. A gente pode ser cis, transexual ou não-binário, e essa questão [da prova] é um desrespeito, deveriam ter ouvido os estudantes e anulado”, protesta a jovem.
Outra estudante, Ana Carolina Garcêz, de 19 anos, entrou com recurso, mas sem sucesso: “Quase perdi a data limite do pedido porque jurava que era uma certeza essa anulação. Escrevi tudo direitinho, citei a ONU (Organização das Nações Unidas) e o TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral) para justificar que eles usaram errado a expressão identidade de gênero, mas nada adiantou, meu recurso foi indeferido”.
Ao ser procurado, o DSEA comunicou que todos os recursos enviados dentro do prazo, 4 de setembro, foram analisados e as respostas encaminhadas aos respectivos candidatos pelo próprio sistema do vestibular.
O gabarito comentado esclarece que a alteração na concepção dos cartazes publicitários significa tanto uma mudança nos papéis sociais de homens e mulheres como também demonstra uma preocupação em reconhecer e valorizar a revisão das identidades de gênero.
O documento revela ainda que, no cartaz de 1958, a campanha da cervejaria Budweiser não era direcionada à mulher, que estava ali somente para servir a cerveja. Já no cartaz recriado em 2019 a cena muda, homem e mulher são alvos da campanha publicitária e por isso estão lado a lado, segurando a lata de cerveja, comendo pizza e encenando uma pausa no trabalho.
Afinal, o que são identidade de gênero e papel de gênero?
As questões que envolvem sexualidade têm sido cada vez mais discutidas, mas ainda assim, muitas dúvidas surgem, tanto a respeito das nomenclaturas, quanto sobre os conceitos de gênero. Nas ciências sociais e na psicologia, por exemplo, gênero é considerado uma construção social.
“A estrutura [da sociedade] nos faz repetir e reproduzir as lógicas que foram construídas e impostas mas que podem ser modificadas, porque não há uma fixidez quando identificamos a pluralidade e diversidade de existências possíveis neste mundo", argumenta Nlaisa Luciano, de 27 anos, professora e ativista LGBTQIAP+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgênero, Queer, Intersexos, Assexuais, Pansexuais e outras orientações).
Identidade de gênero é como cada um se reconhece, mulher, homem ou nenhum dos dois. Tem a ver com experiências, referências e percepções individuais sobre os gêneros masculino e feminino. Quando o sexo de nascimento não coincide com a identidade de gênero, essa pessoa é chamada de “trans”, abreviação de transgênero, segundo o Manual Orientador Sobre Diversidade, elaborado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
O mesmo ministério também investiga a baixa participação de mulheres na política baseada em papéis de gênero, que é como a sociedade espera que homens e mulheres se comportem. O papel do homem ainda está mais associado à esfera pública e politicamente produtiva. Já as mulheres têm suas participações valorizadas quanto mais próximas do papel doméstico, privado e reprodutivo.
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