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  • Rafael Lopes

Canabidiol: uma esperança para famílias brasileiras no tratamento de doenças graves

Potencial terapêutico do óleo não se restringe a quadros neurológicos


Repórter: Rafael Lopes

Editor: Larissa Mafra


Manifestação em prol do uso medicinal da cannabis.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil


Miguel, de seis anos de idade, recebeu o diagnóstico de epilepsia e autismo aos 11 meses de vida. Após anos em busca de um tratamento eficaz, a família encontrou no canabidiol uma solução promissora. Sua mãe, Alda Reis, acredita que essa foi a melhor escolha: "Passamos anos com tratamentos que inicialmente funcionavam, mas depois perdiam eficácia. O canabidiol foi a salvação para as crises do meu filho."


A história de Miguel é compartilhada por milhões de famílias em todo o Brasil. De acordo com uma pesquisa realizada pela empresa Kaya Mind em 2021, aproximadamente 6,9 milhões de pessoas no país necessitavam de tratamentos à base de canabidiol. Essa composição tem se mostrado eficaz no controle de condições como epilepsia, alzheimer, câncer e fibromialgia, entre outras.


Recentemente, o Brasil deu um passo importante para ampliar o acesso desses pacientes ao tratamento. No dia 13 de setembro, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) concedeu um salvo-conduto que permite o cultivo doméstico de maconha para extração do canabidiol, mesmo que a planta em si não seja legalizada no país.


Embora o uso medicinal da cannabis não seja nenhuma novidade na medicina ocidental, o estigma em torno do uso terapêutico da maconha ainda persiste. No entanto, é essencial compreender que o canabidiol (CBD) é um composto diferente. Extraído da Cannabis sativa, ele não possui propriedades alucinógenas, ao contrário do tetrahidrocanabinol (THC), substância responsável por efeitos psicotrópicos.


O CBD atua principalmente no cérebro, interagindo com as células de glia, componentes do tecido nervoso que nutrem e isolam os neurônios. Diferentemente do THC, o óleo extraído do CBD é terapêutico e não causa dependência ou alterações cerebrais a longo prazo, devido à sua atuação em receptores distintos do sistema nervoso.


Inicialmente, o canabidiol era uma alternativa apenas para o tratamento de epilepsia, em razão dos efeitos colaterais graves dos medicamentos tradicionais. Pedro Corrêa, médico residente de Neurologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), explica que o tratamento de epilepsia envolve a regulação do cálcio dentro das células cerebrais. “O canabidiol age modulando os níveis de cálcio intracelular através dos receptores. Isso faz com que a excitabilidade celular diminua e as convulsões sejam menos frequentes”, explica o residente.


Além da epilepsia, o CBD tem se mostrado eficaz no tratamento de outras condições clínicas, como Parkinson e Asperger, e é a base para medicamentos destinados a pacientes com fibromialgia, graças às suas propriedades analgésicas. Laila Tulani, paciente que teve fibromialgia detectada após um quadro de dengue, explica a importância do canabidiol em sua vida: "Ter um tratamento é muito importante pela qualidade de vida, e eu não falo sobre praticar esportes. Antes do tratamento, as dores eram tão fortes que eu passei seis meses sem conseguir levantar da cama."


A melhora na qualidade de vida também pode ser atribuída à ação ansiolítica e antidepressiva do óleo extraído, que atua nos receptores de serotonina, substância responsável pelo bom humor e pela sensação de felicidade. Pacientes com fibromialgia frequentemente enfrentam problemas psicológicos, como ansiedade e depressão, devido ao isolamento social causado pelas fortes dores musculares.


Além do desafio imposto pela doença, os pacientes ainda enfrentam obstáculos na obtenção dos medicamentos. Os preços dos remédios variam de acordo com a concentração e tamanho do frasco, tornando o tratamento caro para muitos. Ana Carolina Marques, mãe de um paciente que necessitou de tratamento, explica as dificuldades enfrentadas para adquirir os remédios: "Na época, o canabidiol não era legalizado. Tivemos que solicitar uma autorização para importar o remédio de Cuba, e um vidrinho custou R$2.000". Já Alda, mãe de Miguel, conta que se associar a uma organização não governamental (ONG) ajudou a reduzir os custos: "Quando Miguel tinha quatro anos, cheguei a pagar R$4.000 nas primeiras medicações. Hoje, aos seis anos, consigo preços mais acessíveis através da ONG à qual pertenço, mas ainda é caríssimo."




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