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Camisas de time: moda da favela ou da alta costura?

Muito comum nas favelas, peças esportivas se torna febre e tendência no mundo da moda


Repórter: Tiago Mendes

Editor: Sabrina Jacob


Modelos usando a tendência blokecore - Foto: https://aesthetics.fandom.com/wiki/Blokecore

No setor da moda, o futebol ganhou enorme espaço junto com o streetwear, criando-se um novo estilo, pautado em diversos elementos culturais: o “Blokecore”. O estilo propriamente dito é recente, é característico pelo uso de artigos futebolísticos, como camisas de times atuais ou retrôs, e surgiu em 2022 na rede social TikTok. O termo “bloke” vem do britânico e é uma gíria periférica. Significa algo como “bro” em inglês ou “mano” em português e “core” se relaciona como uma tendência, estilo e essência.


O britânico Brandon Huntley em 2022, foi um dos maiores responsáveis por popularizar essa tendência. Em seu TikTok, o influencer montava looks e vestuários com camisetas de futebol retrôs, influenciando seus 30 mil seguidores a adotarem o estilo.


As camisas, em sua maioria “oversized”, maior que o usual, misturado com calça jeans ou de alfaiataria ganham espaço no cenário fashion. Famosos como Billie Eilish, Rosalía e Juliana Nalú são algumas das celebridades que aderiram ao estilo nas redes sociais.


A origem das camisas de futebol como item de moda


No Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, o uso das camisas de times sempre foi comum, mas era centralizado nas equipes em que se torciam. Porém, com a explosão do funk 150BPM, uma vertente do funk criada nas favelas do Rio, os artigos futebolísticos também explodiram e ocorreu um grande aumento do uso das camisetas.


Leonardo Leal, dono da loja de artigos esportivos Leal Sports afirma que costumava vender mais camisas futebolísticas apenas em grandes eventos. “Vendi muito na Copa de 2014, mas após isso deu uma parada. As vendas só cresceram significativamente de novo no final do ano seguinte. Cresceu cerca de uns 70% comparado ao ano anterior. Com o futebol europeu em alta e o funk e rap falando sobre isso em suas letras, meio que se tornou uma febre e depois disso não parou de crescer”


Antes de serem itens requisitados pela moda e se tornar um estilo e tendência popular mundialmente, os rappers, trappers e funkeiros de periferia já colocavam o estilo das camisas de time em suas letras e videoclipes. O DJ FP do Trem Bala e o cantor MC Cabelinho, ambos artistas periféricos, que começaram no funk 150BPM, foram precursores desse estilo.


Artistas Mc Cabelinho e FP do Trem Bala com camisa do Arsenal e PSG respectivamente Foto: Reprodução/Twitter X

Ambos os artistas já deram entrevistas falando sobre o “vício” nas camisas de times. MC Cabelinho admitiu ter mais de 130 peças de futebol e por meio de seus videoclipes, é possível perceber a variedades das camisetas. O mesmo vale para FP do Trem Bala que já fez entrevista ao canal Kondzilla mostrando um pouco sua coleção.


Relações da moda e futebol tem se estreitado cada vez mais


Além do blokecore, o estilo da periferia tem ditado as tendências de moda atual, segundo Márcio. “O funk, o rap e o samba se expandiram para fora da periferia. As camisas de futebol estão assim também, mas a nível mundial. Já é bem comum o uso das camisas como artigos de moda. O Flamengo, por exemplo, recentemente fez uma parceria com a marca de streetwear Thug Nine. Essa colaboração não é de uniformes de jogo e sim roupas casuais de moda mesmo.”


Collab Thug Nine e Flamengo - Foto: Reprodução/Twitter X

O jogador francês do Real Madrid, Eduardo Camavinga tornou-se o primeiro futebolista a desfilar pela marca de grife Balenciaga. O francês, ao lado de Kim Kardashian e Dua Lipa, fez aparição na Paris Fashion Week de 2022. Além de Camavinga, o espanhol Hector Bellerín virou um grande ícone fashionista no mundo do futebol. O jogador popularizou o estilo blokecore e desfilou para a Louis Vitton, também marca de grife.


Jogadores Eduardo Camavinga e Héctor Bellerín respectivamente - Foto: Reprodução/Twitter X

Afinal, é uma moda da periferia ou das passarelas?


Karuan Santos, estudante de Educação Física na UERJ e morador do bairro de Madureira, zona oeste do Rio de Janeiro, se preocupa com o futuro da moda das camisas de time. “É até maneiro ver como essa cultura presente na periferia se expandiu tanto para fora mas ao mesmo tempo é preocupante ver que talvez isso esteja sofrendo uma espécie de apropriação por parte das classes mais altas”


Essa relação da moda e futebol tem gerado controvérsias, visto que os preços das camisas de futebol têm ficado cada vez mais caras, distanciando as massas ao acesso aos produtos. Márcio Alexandre afirma: “A gente tem que lembrar que a maioria esmagadora dos que consomem futebol é a grande massa, ou seja, pessoas não-ricas. Isso, causa uma elitização no esporte que é refletido nas camisas e nos seus preços.”


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